Nossa terra, nossas gentes. Como a nossa terra era fértil! ( 2)

e as carochas...

Tão fértil, tão rica ,tão especial que nada nunca poderá haver a fazer-nos esquecer.

Assim era aquele “pedacinho” de chão de um lindo oásis entre o deserto e o mar: Moçâmedes/ Namibe/Angola.

Nossas vidas se misturavam em costumes e hábitos de raízes portuguesas à cultura nativa e talvez por isso rotinas familiares tão únicas ao ponto de continuarem guardadas nas nossas memórias.

Um dia, foi plantada uma figueira na casa de meus padrinhos e o canteiro indicado era perto dos” anexos’ dos empregados da casa e de um forno no quintal. Sim, e tal como havia na casa dos meus pais, a construção de um forno para pão e bolos tradicionais era um hábito das famílias moçamedenses acredito que, trazido por costumes da metrópole especialmente de regiões de rica tradicional culinária de aldeias e pequeno lugarejos no interior.

Meus padrinhos , de raízes do Norte de Portugal , mais precisamente transmontanos, não passaram muito tempo sem construir um forninho para fazer, e mais do que tudo matar saudades do pão de azeite e ovos de Trás os Montes. Na verdade, fizeram um trabalho de arte ao construir um forno improvisado para o efeito. Inspirados-se nas mil e uma utilidade das quindas ( cesta redonda), dos nativos , e com muita habilidade no enchimento de tijolos conseguiram chegar bem perto da ideia de um forninho . E funcionou, deu certo! Durante um bom tempo a família, e amigos, mataram saudades do pão de azeite pelo menos até a figueira ser plantada e entrar em fase de crescimento.

Oh terra boa! A figueira crescia e crescia a olhos vistos e seus figos já eram conhecidos na cidade como entre os melhores que moçâmedes já vistos até então...O caso era tão inédito que, meu padrinho, o Dr das carochas do deserto( contarei a história curiosa a seguir), resolveu colocar uma régua graduada ao lado da dita figueira para poder comprovar, sem receio de erro, dos pulos que ela dava a cada dia que passava .Eram pulos , na verdade, pois se não lhe falha a memória é assim que se lembra a minha amiga Marília, a filha mais novinha da família. Dizia ela : “aquela figueira crescia de 1 -1/2 cm por semana, acreditem.”

Mas ,com isso veio o problema: como continuar a usar o forninho de quinda se estava ali tão perto da figueira e por tanto que ela se espalhava para os lados e crescia, evidentemente a prejudicaria com o calor que produzia?

Infelizmente não foi mais possível o seu uso e acabou vencendo a continuidade da gostosura da figueira que continuou a dar figos de sabor incomparável sempre oferecidos a quem os apreciasse na cidade, e ao que consta até a quem viesse do exterior.

Quem sabe, a fama daquela curiosa figueira possa ter chegado até terras geladas da Russia? Pois é... Pouco tempo depois meu padrinho, veterinário, recebeu a visita e acompanhou um grupo de Russos ao nosso deserto para estudo da fauna, especialmente de insetos . Ficaram entusiasmadíssimos ao olhar as carochas do deserto aquelas que nós, crianças ,levávamos para o colégio e as enfiávamos nas carteiras para que lá fizessem seus ninhos mais protegidas daquelas areias escaldantes de onde as resgatávamos. Tão entusiasmados e agradecidos ao meu padrinho por lhes ter apresentado tal raridade que, em estudos posteriores propuseram-lhe o cognome de Dr Carocha , ao que ele, obviamente recusou.

De tudo isto ficou-me também a lembrança das tantas caixas de papelão que eu tinha de conseguir para recolher a carochas a caminho do Colégio, junto com minha amiguinha Fernanda.

Lana

Teresa S Carneiro
Enviado por Teresa S Carneiro em 09/11/2021
Reeditado em 09/11/2021
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