A BELA LAURENCE (LOURANCE, LE BELLE DE JOUR)
A BELA LAURENCE (LOURANCE, LE BELLE DE JOUR)
Ricardo De Benedictis
O poeta Affonso Manta deu-me a notícia da sua presença em Poções, lá pelos idos anos de 1970.
Ao descrevê-la parecia estar à frente de um anjo.
– A “Lourance” é linda demais. Você não pode viajar sem antes ter posto os olhos na minha nova musa! É uma francesinha maravilhosa e tem servido de devaneio dos homens, horror das mulheres daqui, Sua beleza é estonteante, mais bela que Brigite Bardot, dizia-me eufórico o poeta!
- Além do mais, continuou - desfilando nua num cavalo em pelo, lá nos campos de Morrinhos, próximo do por do Sol – é a nova amazona, quem sabe, a única dos nossos tempos. Amanhã à tarde vamos conhecê-la.
Combinado, saí e recebi notícias de outros amigos que confirmaram o que me havia descrito o poeta que, vez por outra a definia de “Le Belle de jour”, uma vez que o filme, assim intitulado, acabara de fazer sucesso mundial!.
No dia seguinte fomos para Morrinhos, cerca de 6 Kms. da cidade e lá somos informados que nossa amazona havia viajado e só voltaria à noite. A frustração tomou conta do amigo e grande poeta Affonso e eu fiquei um pouco desalentado. Pegamos a estrada de volta e adiamos o encontro, até termos certeza que a veríamos.
Ao chegar na residência do meu irmão Ernesto, cujo escritório de advocacia era na entrada da casa, comentei o assunto e ele me disse, sem esboçar surpresa, que a Laurence iria visita-lo na manhã seguinte, mas que ele iria a Jequié, em compromisso de última hora numa audiência.
- Ela vem trazer umas peças de artesanato para me vender. Se você puder ficar no escritório, explique que tive de viajar, mas estarei de volta à noite. Que ela venha depois de amanhã, pela manhã. Disse que ela era linda e que a cidade estava em polvorosa pelos seus desfiles desnuda, montando pelada, quase todas as tardes em Morrinhos. Disse ainda que poucas pessoas conseguiam comunicar-se com a ‘bela da tarde’, dado que ela falava francês e quase nada de português.
Apesar do meu pobre francês, conseguia entender bem o idioma pátrio da mulher-objeto da nossa curiosidade. Além do mais, tanto Ernesto quanto Affonso eram fluentes na língua de Victor Hugo, o que facilitaria nossos diálogos.
Na manhã do dia seguinte, ela apareceu no escritório de Ernesto e pude constatar tratar-se de uma mulher exuberantemente bela.
A princípio, mostrou-se incomodada pela ausência do Dr. Ernesto, como o tratava. Eu expliquei que ele teria uma audiência em Jequié e transmiti o recado dizendo-lhe que era seu irmão e que ele me pedira para fazer suas vezes.
Ela sorriu.
Perguntou minha profissão e ficou à vontade quando soube que eu era jornalista e poeta!
Falei de Affonso que ela já conhecia e ficamos conversando.
Apresentou-me várias obras de artesanato e algumas pedras que havia adquirido em sua passagem pelo Caribe. Em dado momento, ela debruçou-se sobre a mesa para explicar a origem de uma figura andina e exibiu os belos seios sem soutien...
Acabei por comprar algumas peças e fiquei mesmo admirado com um ‘ojo de tigre’, de rara beleza que guardaria por alguns anos.
No dia seguinte fiz uma viagem que estava agendada há alguns meses e quando voltei a Poções, na semana seguinte, ela já não estava por lá.
Affonso me diria:
- Rapaz, ela sumiu como um foguete, do mesmo jeito que apareceu.
A comunicação à época era difícil. Telefone fixo era pra poucos e o celular, não havia qualquer possibilidade da sua existência. O TELEX era o meio mais moderno. Computador, nem por telepatia!
Nunca mais ouvi falar daquela jovem! A não ser quando estava com os amigos de Poções que a conheceram.
Laurence foi assunto durante muito tempo na cidade e vez por outra, alguns dos amigos que estiveram com ela, trazem-na à lembrança.
Imagino que seu visto de turista tenha vencido e ela retornou para a França.
Quanto à Comunicação, desde então, a Ciência avançou muito e hoje ainda há quem reclame da falta de conexão.
É a vida!