Aonde você se encontra na sua relação com Deus?

Estávamos a apenas uma semana da Páscoa, festividade nacional comemorada anualmente há centenas de anos e sempre à mesma época em nosso país.

A Festa da Páscoa era e continua sendo um acontecimento muito especial em Israel. Pode ser assemelhada ao feriado de Independência também comemorada em muitos países. Foi instituída para comemorar a saída (êxodo) dos israelitas da servidão imposta pelo poderoso Antigo Império Egípcio,  o primeiro grande Império da Antiguidade, durante cerca de quatrocentos e trinta anos. À época, o Egito vivia o seu apogeu sob a liderança monárquica dos dois faraós hicsos, Seti I e Ramsés II.

Como grande personagem nessa etapa de preparação para deixar o Egito, YAHWEH constituiu a Moisés, filho de Anrão e Joquebede, ambos israelitas, porém, criado no palácio real como Príncipe no Egito, para libertar e conduzir o povo até os limites da Terra Prometida; uma peregrinação que durou quarenta anos pelos desertos do Médio Oriente, e que se tornou conhecida como o Êxodo.

A diferença entre o que ocorreu, politicamente, ao tempo de Moisés e o que tem ocorrido em tempos mais recentes, está no fato de que uma determinada nação sacode de sobre si o jugo da servidão mas permanece em seu território. Foi assim com o Brasil ao tempo de D.Pedro I que expulsou do território brasileiro os portugueses que subjugavam os nativos e todos quantos se levantassem para combater as exigências da Coroa Portuguesa.

Não foi isso que aconteceu com o povo judeu! Eles lutaram por sua liberdade da sociedade escravocrata do Egito, mas, em essência, eles deixaram para trás um território que não lhes pertencia e caminharam em direção a um território que lhes havia sido prometido desde os tempos de Abraão, a saber  o que se designou chamar Terra Prometida, dalém do Rio Jordão, na Palestina.

Pois bem, lá estava eu no templo de Jerusalém, preparando-me para a festa da Páscoa quando avistei o Mestre Jesus sendo argüido pelos principais dos sacerdotes, pelos escribas que eram meus colegas de profissão e pelos anciãos que eram os guardiões dos costumes religiosos.

Aproximei-me do círculo a tempo de ouvir a pergunta que lhe fizeram: "Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para fazer o que fazes?" Referiam-se ao fato de ter Jesus expulsado do templo os mercadores que transformaram o culto em um mercado auferindo lucros indecentes com o comércio de pequenos animais, incenso, objetos de prata e demais artigos utilizados pelos que vinham ao templo para adorar, como o kipá ou, solidéu, o talit, o tefilin, a mezuzá e outros artigos relacionados ao culto.

Diante da pergunta, Jesus calou os seus interlocutores utilizando-se da Maiêutica Socrática e da qual os seus opositores procuraram se esquivar. Perguntou-lhes Jesus: "O batismo de João era do céu ou dos homens?"

Como não lhe respondessem, Jesus também não respondeu à interlocução provocativa e continuou a ensinar os circunstantes usando a parábola dos lavradores que, por absoluta usura e ganância mataram o herdeiro de uma vinha após terem insultado, desrespeitado e matado alguns servos que representavam os interesses do legítimo proprietário.

Compreendendo que Jesus falava sobre eles e seus interesses escusos em mercadejarem o culto a Deus, eles desistiram de confrontar o Mestre e se retiraram para, imediatamente, surgirem no cenário alguns fariseus e outros herodianos que, com lisonjas e hipocritamente lhe perguntaram: "Mestre, sabemos que és verdadeiro e que seguindo a verdade ensinas aos homens o caminho de Deus. Responde-nos, então se é lícito pagar tributos a César que é um usurpador político e que reivindica para si a deificação dos seus súditos?"

Para responder-lhes, Jesus pegou uma moeda, mostrou-lhes a efígie esculpida nela e lhes disse: "Dai a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César."

Novamente aqui, Jesus estaria dizendo-lhes que o fato de terem transformado o templo em um covil de salteadores, colocava sobre eles a responsabilidade e o juízo tempestivo do Deus a quem diziam adorar.

A tudo assistia eu regozijando-me com as respostas do Mestre. E parecia que ninguém mais ousava questioná-lo quando um outro grupo se aproximou de Jesus. Eram os saduceus que diziam não haver ressurreição.

O seu raciocínio pareceu bastante lógico, pois relataram a história de uma mulher que se casara sete vezes  e com sete irmãos que morreram sem deixar descendência, vindo também a mulher a falecer. A pergunta capciosa que lhe fizeram foi: "Na ressurreição, de qual deles será ela esposa, já que todos a  desposaram?"

Fiquei atento ao que responderia o Mestre, pois o raciocínio era bastante lógico!

Sem se perturbar, o Mestre lhes respondeu que embora lógico, o seu raciocínio era meramente humano pelo fato de não conhecerem as Escrituras e os termos dela em relação à vida futura afirmando-lhes que o casamento é tão somente uma instituição humana, e que na ressurreição ou na eternidade  esses laços sociais e humanos estarão desfeitos. Em seguida, Jesus calou-os ao lhes dizer que Deus não é Deus de mortos  mas sim, Deus de Vivos e isto se verifica no culto, nas preces e demais celebrações quando se invoca a presença do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.

Eu estava boquiaberto, mas à semelhança de Eliú, filho de Baraquel conforme registros feitos no Livro de Jó, resolvi me aventurar a lhe fazer a minha pergunta  motivada pelo meu interesse de prestar Culto Verdadeiro ao Deus de Israel.

Perguntei-lhe: "Qual é o principal de todos os mandamentos?"

Olhando na minha direção e perscrutando-me atentamente, respondeu ele pacientemente e com uma ternura que eu até então não havia visto nas respostas aos meus antecessores.

"O principal é: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.

O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Não há outro mandamento maior do que estes."

Ora, eu sou um escriba e os escribas são os intérpretes e doutores da Lei. Muitos dos meus colegas, por causa da vaidade pessoal e do orgulho de serem tão respeitados pelo povo comum, adoram ficar nas praças da cidade para serem cerimonialmente saudados, além de procurarem os melhores lugares nas sinagogas ou em quaisquer eventos  para serem reconhecidos pelos homens. No entanto, quando procurados pelos necessitados,  principalmente pelas viúvas que os procuram para advogar as suas causas pessoais, nem se incomodam de extorquir o pouco que elas têm, e para justificar este comportamento, fazem longas orações à vista de todos.

Sempre considerei isso jactância e hipocrisia, à semelhança de um provérbio que veio a se tornar muito famoso no futuro, ou seja, "faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço".

Por esta razão, concordei e declarei para o Mestre a minha concordância com a sua resposta acrescentando que "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios", e que era exatamente o que eu pensava como escriba e estudioso das Escrituras.

Isto me permitiu ouvir de Jesus a seguinte declaração que me acompanha até hoje. Disse-me ele: "Não estás longe do reino de Deus!"

Naquele dia o meu encontro pessoal com Jesus tornou muito mais clara a minha compreensão do que seja a verdadeira religião. Compreendi ser definitivamente possível ao ser humano oferecer sacrifícios de toda sorte e de qualquer natureza e, mesmo assim, ainda não estar prestando culto a Deus por estar tudo centrado no esforço humano e nos interesses pessoais, mas não em Deus como Senhor que merece toda honra, glória e adoração pelo fato de ser Único.

Finalmente, para encerrar essa nossa conversa, eu pergunto: Numa escala de 0 a 10 aonde você se encontra na sua relação com Deus?

Você pode estar, à semelhança dos mercadores do templo, comprando ou vendendo artigos religiosos transformando-os em amuletos, mas tudo não passa de superstição e misticismo, pois nada disso substitui o lugar de Deus no coração do Homem.

Você pode, também, à semelhança dos fariseus, se aproximar de Jesus com lisonjas, mas ocultando a verdadeira motivação do seu coração que é receber d'Ele uma resposta que atenda aos seus interesses, e não algo que produza na sua vida a glória do Deus Único. Sua frustração será grande, quando descobrir que Jesus não se encontra "a seu serviço" pois entre ambos, o Soberano é Ele e não você.

Enfim, você pode, também, à semelhança dos saduceus, fazer uso da lógica humana para compreender as verdades eternas. Cuidado, porque as coisas espirituais se discernem espiritualmente.

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Primavera de 2021

07/11/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 09/11/2021
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