VIDA FABULOSA

VIDA FABULOSA

Uma "vida venturosa" não era para qualquer um, antigamente, o termo expressava santidade, vivência religiosa, felicidade em Deus, Já a "vida aventureira" significava quase sempre vagabundagem, vida cigana, sem paradeiro certo. Os "cowboys" do Velho Oeste viviam dessa forma, vagando de cidade em cidade, de fazenda em fazenda, alguns fazendo fama como cavaleiros ou como atiradores, de mira certeira em duelos ou fora deles. Boa parte virava bandido, capangas dos poderosos locais ou temidos matadores solitários. Um deles, em especial, tornou-se tudo isso: o mais hábil cavaleiro, o melhor "caubói" de toda aquela região, o tocador de gado mais eficiente e o "matador" mais respeitado, disputado por fazendeiros exatamente por isso.

Nascido em 1984, William Frederick Cody, responsável por uma fazenda aos 13 anos, com a morte do pai à traição, assassinado por adeptos sulistas da escravidão, nos primeiros dias que antecederam à "Guerra da Secessão" americana, que dividiu os Estados Unidos. William Cody prometera à mãe cuidar da família e não se afastar da fazenda... até os 18 anos, pelo menos. Era admirado na cidadezinha, respeitado e tratado como adulto, por todos lá. Passaram-se pouco mais de 2 anos. Deixou as 5 irmãs, duas delas já grandes -- após efetuar ótimo negócio que manteria a família por longo período -- cuidando da mãe e anunciou que assinara contrato com uma companhia de carroças que atravessavam o país, por terras indígenas, levando mercadorias durante 3 ou 4 meses de viagem, 2 mil quilômetros de perigoso percurso por regiões de peles-vermelhas e outros povos indígenas. O quase menino Will destacou-se, sua pontaria infalível o tornou responsável pelos cowboys, chefe dos demais defensores. Sua fama se espalhou... comboio com o garoto loiro chegava ao destino ! Os índios passaram a temê-lo, evitavam atacar caravanas com o "diabo louro" à frente. Tentaram matá-lo em emboscadas... uma Sorte incrível o acompanhou a vida inteira, a mais inacreditável sorte de que se tem notícia.

O "batedor", sua função, ía muito à frente da caravana com 15 ou 20 carroções, lentos pelo peso da imensa carga. Por vezes se afastava demais e virava presa fácil dos índios, também muito à frente dos seus grupamentos guerreiros prontos para a batalha. Liquidado o batedor, o comboio não seria avisado da presença dos inimigos. Soube êle por um amigo que a função de "correio" pagava bem e trazia muitos PERIGOS... tinha cheiro de aventura, ao contrário da monotonia das viagens m caravanas. Mudou de profissão e, de novo, tornou-se o melhor o melhor também nela. Quando sua mãe faleceu, ficou livre da promessa que lhe fizera de não participar da guerra... alistou-se como "correio" do Exército do Norte, queria vingar a morte do pai por sulistas, alguns anos antes. Foi o melhor mensageiro que o Exército teve, nunca falhou em suas missões e findou com várias condecorações. O Exército do Sul lhe armou várias emboscadas, o jovem "Bill" Cody desestabilizava a balança da guerra, ao atravessar as mensagens entres os batalhões federalistas. Encerrada a guerra, mais de 1 milhão de mortos depois e com o grau de tenente, o cowboy voltou para a futura esposa Luísa Federici -- italiana e fazendeira -- a quem salvara de grave acidente, quando o cavalo da moça disparou, assustado. Casariam tempos depois...

Era época das diligências, as famosas "malas postais" que carregavam também dinheiro... Bill Cody era o cocheiro da maior delas, com um ajudante, um carroção de 9 metros e 4 de altura, cujas rodas traseiras tinham quase o tamanho de um homem. A "poney express" o contrato a peso de ouro, sua fama chegara ao outro lado do país. Durante a guerra fizera amizade com quase todas as tribos da região... uma das poucas que não o conheciam ousara atacar sua caravana. Bil matara sozinho seis dos batedores... o chefe ouvira o tiroteio e viera socorrer seus apaches ! Encontrando-os mortos exigiu a vida de 6 caubóis, como "compensação". Bill postou-se à frente deles... "levem só a mim, fui eu quem acertou todos êles"! Levaram-no, era o fim da Lenda ! Mas a Sorte mais uma vez não o desamparou... na aldeia "fumaram o cachimbo da paz" com aquele jovem her´ói, como as tribos comanches e cheyennes já o tinham feito antes. O "diabo louro" era um inimigo perigoso, melhor tê-lo como companheiro. Essa amizade seria muito útil para todos êles, adiante.

Com uma cidadezinha em festa, Bill propoz ao destacamento do Exército, o pessoal do Forte local, uma demonstração da incrível habilidade dos índios, na caça e na guerra. Sua genial idéia era reproduzir, como SHOW, o que faziam como tradição, costume tribal: a caça ao búfalo, a camuflagem, perseguição de carroças, os seus cantos e danças, cabanas, a aldeia, enfim. Foi um sucesso E UM ESPANTO, na primeira apresentação o público abandonou as arquibancadas às carreiras, quando 500 ou 600 índios lançaram flechas nelas, caindo a poucos metros dos palanques.

O tal show viajou por todos os Estados Unidos, trem lotado levando tribos inteira, com cavalos e cabanas, todo mundo bem pago e o agora "BUFFALLO BILL" enriquecendo como poucos. Poz a esposa "na brincadeira" e levou o tal show -- "WILD WEST EXHIBITION", com o Grande Chefe sioux Mão Amarela" & Tribo -- também à Europa, num grande navio, onde as cenas do Oeste Selvagem maravilharam os ingleses, a Roma do coliseu (que abrigou lá o pessoal todo) e a bela Paris, impressionada, isso por quase 3 anos.

Com todos cansados de tantas glórias e aventuras, voltaram aos Estados Unidos, onde Bill Cody faleceria na primavera de 1917. Ganhou o apelido famoso graças aos índios... fizera fama como fornecedor de carne fresca para os construtores das estradas de ferro. Antes disso, só carne seca, salgada e pouco nutritiva. Sózinho, cavalo e cavaleiro metiam-se no meio da manada de búfalos enfurecidos e, com a carabina encostada ao pescoço do monstro de meia tonelada -- para diminuir o barulho -- matava 8, 10 ou mais mastodontes. Cifra oficial dos arquivos da Kansas Pacific Railroad atesta a morte de 4.280 búfalos. Não constam da cifra os 41 que liquidou sozinho, aceitando desafio de seus amigos sioux... juntos, dúzia e meia deles só conseguiram sacrificar 34, caçando do jeito tradicional. Ao final da prova, recebeu o apelido que o eternizou !

"BUFFALLO BILL" viajou com seu "circo" por toda a Europa, iniciando em Londres, com 4 ou 5 nobres -- que assistiam ao evento -- fazendo questão de ir dentro da diligência perseguida: da Grécia e o Príncipe-herdeiro da Áustria. Lá em cima, como "cocheiro" ao lado de Bill, estava o Príncipe de Gales ! No regresso da Europa, tendo visitado Escócia, Bélgica, Áustria e Alemanha, entre outros locais, voltou aos Estados disposto a não deixar uma só cidade sem sua apresentação. Encerrou as atividades em 1907, milionário.

Assim se fez uma vida de aventuras reais onde a Sorte andou lado a lado com a coragem desse gênio do "bussiness show", a Vida mais fabulosa de que se tem notícia !

"NATO" AZEVEDO (em 5/nov. 2021, 7hs)

OBS: todas as informações foram retiradas da obra ''BÚFALO BILL", do autor francês Paluel Marmont, edit. TECNOPRINT, Rio, 1974, do original de 1955, de Paris. (NA - nota particular minha... não consta do livro em referência que, ao fazer sociedade com um empresário de Circo, Bill perderia tudo, indo à falência,)