Meus 61 anos
Quando cheguei na terra de Alencar faltavam apenas 6 dias para completar 20 anos da data em que saia da rua Liberato Barroso, 1377, o enterro de Antônio Sales, em direção ao cemitério São João Batista. Antônio foi um dos maiores e mais significativos nomes da cultura do nosso Ceará. Partiu aos 72 anos com a cabeça num travesseiro recheado com a areia retirado das dunas de sua terra natal, o Paracuru.
Em Sobral, também no Ceará, distante 150 km da terra que nasci, já aos 14 anos de idade, outro Antônio, ainda menino, que viria a ser conhecido como Belchior, fazia planos para voar. Ele já sentia vontade de brilhar longe de sua princesa, mas, sabia que se nada desse certo vida adentro, mundo afora, ele voltaria ainda com os cajueiros florando.
Nasci numa terça-feira num município cearense chamado São Luiz do Curu, distante aproximadamente uns 100 km de Fortaleza, no dia 08 de novembro de 1960. Éramos uma família pobre do interior, meu pai tinha 28 e minha mãe 26 anos, além deles estavam me esperando dois irmãos, um com 2 e outro com 4 anos.
Os dois nomes que citei anteriormente, depois de muito viver, pesquisar e mergulhar em suas histórias, possuem trajetórias que admiro e, dentro do possível, as utilizo para me guiar, extraindo o melhor de seus atos e palavras, sem perder a lucidez da compreensão que estabelece as diferenças de nossos tempos e de suas condições humanas.
Assim como toda e qualquer pessoa lúcida, que teve a oportunidade e o entendimento de caminhar pela vida, prestando a atenção em seus passos, sei que viver não é um caminhar para o que chamamos de felicidade e, nem muito menos para um local quente que só uma porra, que é capaz de nos fazer sentir a dor do fogo no nosso corpo, mesmo tendo a certeza que ele se decompõe por aqui mesmo, quer pelo contato da terra ou pelo contato com o fogo local.
O que busco na verdade é viver com lucidez e garra suficientes para enfrentar tudo o que for aparecendo na frente, vida adentro, mundo afora! Nesse pensamento que se forjou ao longo desses 61 anos, percebi que nada sozinho tem graça e que esse sentimento vale para todos nós. Portanto, precisamos entender que alternar entre o palco e a plateia é algo necessário e inteligente. Dessa forma, teremos o prazer de apresentar nossas muitas obras ao calor dos aplausos, muitos deles bem fervorosos e, poderemos aprender muito, admirando e externando nossa alegria na hora de aplaudir aos muitos shows que assistiremos até nossa partida.
Os dois Antônios já se foram, eu ainda estou por aqui e, dentro daquilo que acredito, pretendo apresentar nossas histórias, juntamente com a de mais outros e outras Antônios e Antônias, não para garantir que elas sejam conservadas como a de nossos pais, mas, para dar a certeza de que somos capazes de fazer um vida inteiramente livre e triunfante!
Parabéns para mim!!