Carlos Henrique (o Mascarado)

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Um resgate aos moldes de um filme de ‘suspense’: arriscado, preocupante, tenso; — o do Carlos Henrique, 21 anos.

Alguém implorou por ajuda ao “Instituto Pai Resgatando Vidas” a um socorro imediato ao jovem, dependente químico. O próprio diretor da instituição (Marcos Bastos) fora à residência da família.

Pela bondade de Deus, seu coração piedoso, e uma autorização do “poder paralelo”, o acolhimento pôde ser feito com sucesso.

O jovem encontrava-se na casa da mãe. — Como uma fera acoada…

Pelos latidos dos cães, Carlos era avisado haver gente diferente na área e, ao se ver em perigo fugia por uma rota de fuga, ao ganhar uma escadaria que dava acesso a outro bairro.

No dia chegado do esperado acolhimento, Carlos não pôde agir de tal maneira (embrenhando suas fugas).

Numa providência Superior, adentrou às portas da esperança abertas a ele. — O Pai o aguardava ao volante, ao lado da residência.

A luz raiou ao jovem naquela escura noite manauara, no início de outubro de 2021; naquele bairro distante da região central.

Sabedor do projeto (pelas lives em redes sociais) o rapaz odiava o Pai Marcos.

Resistiu o quanto pôde à ida ao projeto, para se tratar da sua dependência química, mas fora. — Após planejar em último instante, dormir uma única noite no Instituto, e dia seguinte sumir de lá…

Deu errado o seu intento e não conseguiu fugir como pensou a princípio (mesmo às portas do projeto estarem abertas) a quem quiser ir embora.

Dias depois houve uma conversa com ele na casa.

— O que você diz sobre o Pai Marcos, e o resgate? — Eu esperava de outras pessoas irem lá, mas, ele…

Ao ver aquele camarada com a câmara no meu rumo, disse: eu não vou. Mandem esse, cara sair daqui, eu não vou muito com ele. Chamem um Uber para mim! Vou sair da favela, mas não quero vê-lo.

A minha visão era que vocês usavam esses camaradas aí (os internos em tratamento, do projeto) para ganhar, mídia, dinheiro, ostentar…

Agora, na convivência com vocês, vejo que eu estava errado. — Dissera o, calos ao Wilson Bastos. — Ao contar um pouco da sua trajetória de vida.

O Carlos disse ter nascido e se criou em Manaus e não escondeu o seu imenso amor por sua terra. “Não troco a minha cidade por nada”.

No andar da prosa com o filho do diretor, revelou mais algumas coisas de si, da família, da vida…

“Eu era uma criança normal como todas as outras… Aos 12 anos ainda morava com os meus pais, num bairro de periferia, em frente a uma boca de fumo”.

Ao passar uns dias na casa de parentes, num lugar distante, o seu mundo desabou por lá… ao saber do assassinato do pai.

Para agravar o quadro de dor… não pôde chorar o seu morto mais querido, em corpo presente. Não deu para ir ao enterro do velho, pranteá-lo, vê-lo pela última vez.

Um turbilhão de pensamentos (intrusivos?) afloraram à mente, do garoto… Essa perda abrupta da referência paterna possivelmente culminou-se num desequilíbrio emocional…

O menino afastou-se da casa onde viveu com os pais, abandonou a escola, os estudos… Por um tempo alimentou uma revolta das maiores e, a ideia de não deixar “barato” a morte do pai… — ao retornar àquele bairro que vivera. — Chegou a fazer promessas a si mesmo, nesse sentido.

Caiu de vez no mundo das drogas, do crime…

Numa ocasião chegou a ser o meliante mais procurado de uma cidade do interior do Amazonas, onde fora visita-la num dia e no outro meteu assalto a uma joaleria.

O tempo fechou-se a ele: homens da Segurança Pública, fortemente armados montaram o cerco, as saídas do lugar e, o capturaram.

— Você se arrepende de quê?

— Me arrependo de muitas coisas… mas, não dá para retroceder.

— Para aquele que pessoal que diz só fumar maconha, o que você diz-lhe?

— Não se envolva no crime, numa corda de fumar maconha. Porque foi nela que comecei… Para esses eu digo: dela vem o assalto, o homicídio, o tráfego…

— O que você já fez no passado que não faria mais?

— Não assaltaria, não tiraria mais a vida de ninguém…

— Qual o dom que mais lhe desperta Mascarado?

— Gosto de cantar louvores. Acalma a minha alma.

— Você já teve medo de morrer?

— Quem nunca teve? Me diga aí que vou dizer que mentes.

Já passei por várias situações…

— Pensa em voltar a estudar?

— Penso. Só não tenho vontade.

— Você vai concluir os seus três meses de tratamento, não tem medo de cair. Ao sair do projeto irá se manter firme, lá fora, o que pretende?

— Não tenho medo de cair. Drogas, para mim, é coisa do passado. Quero abrir uma pizzaria e dar emprego para as pessoas que precisam. Desejo ser dono do meu próprio negócio.

— O que acha da família que você tem agora?

— A família é de boa. O paizão é gente boa…

— Gosta do Pai agora?

— Eu fiz uma amizade com ele que nunca pensei. Conversando é que se resolve. Ele é gente boa, um bom camarada…

— Como é a sua relação com a mãe?tens feito ela sofrer…

— Converso com ela.

Hoje está feliz. Você sabe que a mãe só dorme quando o filho chega em casa.

— O que você pensa das drogas e o seu conselho às pessoas que as usam?

— Não se envolva com elas. Tem gente no crime, que pensa em sair, mas não pode. Só quem está lá sabe o que é ele.

Na casa do Pai, o Carlos sem afeição às câmeras, a ser filmado tiveram uma boa ideia: sugeriram-lhe o uso de máscara. — Deu certo. Ficou com ela por quase um mês. — Daí o apelido de “Mascarado”.

“Deu para ficar de boa”. — Disse ele.

— O projeto está lhe mudando como pessoa?

— Para quem eu era, quem me conhece sabe que já mudei bastante.

Depois de três anos, recluso num presídio de segurança máxima da capital, o Natal deste ano será o primeiro, após o seu retorno à liberdade.

O Mascarado agora vive a alegria desse momento natalício mais comemorado da cristandade (o nascimento de Jesus Nosso Senhor). — Na família mais amada do mundo: a do Pai Marcos.

Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/ Acadêmico Literário.

Texto com base na live do Wilson e

Marcos Bastos (04:11:21).

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 06/11/2021
Reeditado em 07/11/2021
Código do texto: T7380032
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