VIOLAÇÃO DE NOSSO INTERIOR.

Dizia o filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”; respondeu. E quantos não são!

E como isso se processa, começar a ser seu amigo? Não evitando a verdade que conhece, defende e com a qual conflita, por conhecer todos os escaninhos. Ser amigo de si mesmo é ser amigo da verdade, não da sua com reservas, mas da que não se pode recusar por não admitir a lógica. Não há credibilidade nem nexo em quem censura o mesmo que aplaude e cultiva.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. Não posso mentir a mim mesmo. A humildade submissa à verdade pessoal, sem pretensão de absurdos e de voos sem asas, não enfrenta a história. A queda é grande. A história demonstra os equívocos.

“Eu aprendi que para se crescer como pessoa é preciso me cercar de gente mais inteligente do que eu”, dizem alguns. Aprendi que muita coisa que é inteligente para uns pode não ser para outros. E se aprende mais profundamente com o que está dentro de nós mesmos, mesmo que fiquemos sem respostas na insistente indagação interiorizada. Ninguém tem nada a me ensinar e tenho muito a aprender, disse aqui e sempre, aprender comigo mesmo, com meu interior, que nunca me responde a essência maior.

Facetas corriqueiras do existir e da aculturação conheço razoavelmente e transborda de meus arquivos, verdades insuficientes de reter por imersão que não se alcança, ancoradas no aprendizado da leitura de uma porção do todo de quem lê e compreende. Não basta ler. Mas a memória não é nenhuma enciclopédia que guardaram os monges da cultura clássica na idade média, escondida em pergaminhos de cabra em cidades “intra muros”, em seus castelos, longe da sanha destruidora dos bárbaros. Mas a barbárie social continua e ninguém que lê e entende não entende a ausência de organicidade em que se vive.

Por quê? Falta compreensão.

Fico sem respostas em minhas fragilidades idolatrando o “sei que nada sei” socrático. E submisso às grandes verdades que outros espaços vedaram à nossa racionalidade e néscios pretendem desvendar. A história ri dos sábios em suas frustrações. E de forma cerebrina muitos discutem o indiscutível de portas cerradas, e outros querem salvar a humanidade matando e restringindo o que há de melhor, a liberdade, em nome de uma igualdade que só infantis e insuficientes podem pretender, logo que todos são desiguais.

Jamais seremos amigos de nós mesmos se insistimos em sermos paladinos de uma caricatura que tanto admitimos e acabamos aceitando como verdadeira por uma interferência subliminar. Um processo que Jung bem definiu.

Queremos uma verdade ótima, boa, generosa. A isso só chegaríamos através de um processo de fatos e engenhos altamente mentirosos. Na vida fenomenológica, causa e efeito, o acessório segue o principal. Não o inverso. A restrição nunca seguirá a liberdade. Esta é o principal, tudo mais é acessório. Minha verdade nunca será plena, embora sabendo que se fosse realizada atenderia aos meus desejos, fato principal, se para chegar a ela estou estruturado na mentira, a falsidade do acessório que segue a inversão. É o que se vê, o que se vive.

O que mais me incomoda após me apossar de estrutura macro do direito como ciência, cientificidade que move toda a sociedade, é ouvir essas mentiras que não são nem surrealismos, “Estado de Direito”, “Democracia”, “Devido Processo Legal, Contraditório Regular, Ampla Defesa”.

Não achei minha identidade a tempo de ser pessoa integral. Difícil combate. Recuso a verdade que conheço e nego. Aprecio e festejo o mesmo princípio que censuro, porque naõ existe. O respeito ao Direito. Sou antítese. Nunca serei tese. Inteligência limpa, sem interesse mesmo idealista, que não mata, não aprisiona, antes liberta e ama. O que não existe não se cultua. Nem se é seu servo.

Direito, qual direito? O ódio não está na conquista de razões pessoais resultantes do ideal.

O ódio á liberdade mata, mata a forma e a alma que veste a forma, seja qual for sua origem. A morte por valores de dominação é e sempre foi repulsiva na história. O amor virou a página da dominação e da escravidão, muitos não conhecem a história e seus mártires, mas os maiores mártires são os que a história não registra em identidade, nem mesmo em número, as crianças mortas no curso dos tempos, a inocência que não pode abrir o vestíbulo da vida, desde o holocausto até os mártires das tiranias todas.

Estamos todos a procura da “Terra prometida”, mas ela não está aqui.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 06/11/2021
Reeditado em 06/11/2021
Código do texto: T7380013
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