Na semana passada perdi uma pessoa muito querida em minha vida.

Lembro perfeitamente, quando em um Dezembro há muitos anos atrás eu  me dirigia para fazer uma entrevista em seu apartamento na Rua Arthur Ramos para concorrer a uma vaga de Secretária Executiva na Empresa Brystol Myers Squibb. Corria pelas ruas de São Paulo vestindo meu terninho de entrevista, salto alto, cabelo arrumado e esperança no bolso. Até que cheguei a um belíssimo apartamento, forrado de tapetes persas e quadros maravilhosos. A empregada veio toda de branco me servir um cafézinho, e depois, entrou na sala um homem fino, muito bem vestido,  elegante, educado, cavalheiro, e eu, apenas uma jovem sem muita experiência. Dirigiu-me para um jardim de inverno, cheio de plantas, decorado lindamente;  depois de uma entrevista exaustiva em Inglês e Português , ele apostou e  mim e disse assim: "Você precisa de um verniz - mas eu vou ensiná-la a ser uma Secretária Executiva". 

Nasceu entre nós uma amizade tão bonita! Ele era um pouco pai para mim. Lembro-me que nos fins do expediente, ficávamos conversando sobre a vida. Sábio, ele ouvia mais do que falava, mas quando dizia alguma coisa, eram palavras de sabedoria. Terno, humano, sensível.

Fui sua Secretaria por 2 anos, até que ele teve um derrame cerebral com. Foi um choque para todos! Ele era um Diretor admirado pela sua inteligencia, educação, e por tudo que transformou naquela Empresa. Tinha seus funcionários embaixo de suas asas, sua proteção, seus ensinamentos eram priceless.
Passaram-se  meses, e eu ia até sua casa, despachar os papéis  da Cia.  Ele havia perdido o movimento do braço esquerdo e havia tido outras sequelas; aquele homem altivo, que sempre andava ereto, com seu terno elegante, se tornou um menino muito frágil.  Investi muito do meu tempo em fazê-lo feliz.  

Todos os momentos que tive com ele foram mágicos! Quando adotamos a minha filha Patricia  em 1989,  ele foi no meu apartamento com seu enfermeiro Ananias. Segurou minha filha nos braços com tanto cuidado e carinho. Coincidentemente era  "Dia da Secretária" - 30 de Setembro. E ele me disse assim: "Eu sabia que eu teria que admitir você como minha Secretária, pela sua bondade e humanidade" -  e agradeceu tudo que eu fiz por ele. Na verdade, eu teria que agradecer tudo que ele fez por mim! Um homem maravilhoso, que me deu muitas broncas, mas seus ensinamentos de vida foram preciosos.

Desde que vim para os EUA, (1990)  eu ligava todos os anos no seu aniversário, dia primeiro de Agosto,  onde ele estava internado numa Clinica no Alphaville em Sao Paulo.  Este ano, tive a felicidade de falar com ele, pela ultima vez, e como sempre, demos boas risadas. Ele sempre ficava a espera da minha ligação, e o amor e carinho que existia entre nós, mesmo depois de todos esses anos, era inexplicável. Sempre perguntava da minha filha, do meu marido, da minha vida.

Nossas despedidas eram assim: "Um beijo Sr. Martits!" E ele respondia: "Dois beijos!" Quanta ternura! Com o tempo sua voz firme transformou-se em uma voz meiga, doce, carinhosa.

Sr. Francisco Martits,  um homem brilhante, inteligente, amigo, meigo, sensível, deixou esse mundo no dia 23 de Outubro de 2021. Fiquei sabendo uma semana depois, pelo seu filho. O engraçado é que na semana passada eu havia dito para meu marido: "Esse fim de semana vou mandar umas flores para o Sr. Martits!" Nunca devemos esperar muito para fazer aquilo que nosso coração pede.

Descanse em paz meu querido ex-chefe e querido pai e amigo.  O que me deixa feliz e saber que um dia vou reencontrá-lo, porque Deus fez cruzar nossos caminhos por uma razão.

E eu acredito em outra vida, e na Eternidade.

 

PS: Desculpe a falta de acentuação em algumas palavras.

 

 

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 06/11/2021
Reeditado em 11/11/2021
Código do texto: T7379653
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