Ansiedade

Na barriga da minha mãe, sempre me senti segura e abrigada; mas não consegui ficar lá por nove meses inteiros. Eu queria sair e conhecer o rosto daquela alma tão bondosa que me alimentava com coisas gostosas, falava comigo na certeza de que eu a ouvia e me dava carinho pela sua barriga gigante.

Quando eu queria retribuir, bastava me espreguiçar e dar um chutinho de leve que ela ficava toda animada, chamava meu pai e meus irmãos. Os pequenos arregalavam os olhos e desejavam aquele bebê. Quem diria que brigaríamos tanto depois (hoje, vivemos super bem, que fique claro).

Meu pai se derretia todo. Mal imaginava a dor de cabeça que a princesinha ia dar com fraldas e choros misturados com aquele seu jeito, ou melhor, sua falta de jeito. Resultado: sobraria para a mãe.

Minha ansiedade era enorme e eu saí. A mulher que carregou aqueles três quilos e cem gramas por quase nove meses era a mais linda, carinhosa e perfeita que eu já havia visto.

Aquele homem que ficava todo bobo com os meus gracejos, tinha uma "cara de mau", um rosto firme e marcante, mas era o pai mais dedicado que eu poderia desejar.

Os dois garotos, mal sabia eu, seriam os irmãos ideais para o meu desenvolvimento. Acredite, eles são tão diferentes que se completam. Óbvio que não me lembro de nada. Porém, sei que foi mais ou menos isso.

Hoje, tenho quase 18, uma personalidade formada e idéias definidas. Com a visão de mundo que possuo, não há melhor lugar para se viver do que na barriga da minha mãe, onde sempre me senti segura e abrigada, mas não consegui ficar por nove meses inteiros. Eu queria sair e...