RESSUSCITA-SE O QUE AINDA EXISTE ("As vezes temos que fingir de morto para ressuscitar na frente daqueles que estão achando que estamos mortos." — Leandro Isnard Cardoso Machado)

Hoje, no Dia de Finados, acordei com um sentimento estranho. As ruas estavam silenciosas, mas havia uma agitação no ar que não conseguia explicar. Olhei pela janela e vi uma procissão de pessoas caminhando lentamente em direção ao cemitério local. Seus rostos estavam carregados de emoção, alguns com lágrimas, outros com sorrisos nostálgicos.

Decidi me juntar a eles, movido por uma curiosidade que não conseguia conter. Ao chegar ao cemitério, notei algo diferente. As lápides pareciam vibrar com uma energia incomum. Os religiosos locais estavam em êxtase, proclamando que a morte não é o fim. Suas palavras ecoavam pelo ar, misturando-se com o cheiro de velas e flores frescas.

Obserguei as pessoas ao meu redor, algumas assentindo fervorosamente, outras com expressões céticas. Lembrei-me das palavras de Eclesiastes 9:5, que li certa vez: "Os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem". A contradição entre essa passagem e o que eu estava ouvindo me intrigava.

Enquanto caminhava entre os túmulos, ouvia fragmentos de conversas. Uma mulher discutia apaixonadamente sobre a submissão feminina mencionada em Efésios 5:22, enquanto um homem ao seu lado argumentava sobre a igualdade de gêneros. A Bíblia, percebi, é interpretada de maneiras tão diversas quanto as pessoas que a leem.

De repente, um vento frio soprou, fazendo as folhas dançarem ao redor dos meus pés. Por um momento, tive a impressão de ver sombras se movendo entre as lápides. Será que eu estava imaginando coisas?

Pensei nas células do nosso corpo, constantemente morrendo e sendo substituídas. A vida é um ciclo contínuo de renovação, mas e quanto à consciência individual? Quando partimos, voltamos ao nada de onde viemos?

Observei uma urna com cinzas pronta para ser lançada ao mar próximo. As cinzas se dispersarão nas ondas, misturando-se com a imensidão azul. Como poderiam essas partículas minúsculas se reagrupar um dia para formar uma pessoa novamente?

Sentei-me sob uma árvore no cemitério, observando as folhas caírem suavemente ao meu redor. Era como se cada folha representasse uma vida que se foi, um ciclo que se completou. Enquanto refletia sobre a ressurreição ideológica de defuntos, percebi a ironia de tentar manter vivos conceitos que talvez devessem descansar em paz. Em vez de reviver velhas crenças, talvez devêssemos focar em criar novas ideias, que tragam mais coerência e sentido à nossa existência.

Ao final do dia, deixei o cemitério com mais perguntas do que respostas. A morte, percebi, é um mistério que continua a nos intrigar e desafiar. Talvez a verdadeira ressurreição não seja física, mas a forma como vivemos nas memórias e corações daqueles que deixamos para trás.

Enquanto caminhava para casa, via as luzes da cidade se acendendo uma a uma. A vida continuava, implacável em seu avanço. Pensei em todos aqueles que partiram e em como suas ideias, sonhos e lutas continuam vivos através de nós.

Neste Dia de Finados, percebi que a verdadeira imortalidade pode não estar em uma existência pós-morte, mas na marca que deixamos no mundo e nas pessoas que tocamos. E você, caro leitor, que marca pretende deixar?

Questões Discursivas:

1. O texto apresenta reflexões sobre a morte, a fé e a vida após a morte, abordando diferentes perspectivas e questionando crenças tradicionais. A partir dessa perspectiva, quais são os principais desafios que a humanidade enfrenta ao lidar com a finitude da vida?

2. O autor sugere que a verdadeira imortalidade pode estar na marca que deixamos no mundo e nas pessoas que tocamos. Com base em sua experiência pessoal ou em exemplos da história, apresente exemplos de pessoas que transcenderam a morte física através do legado que deixaram.