Avós de primeira viagem
Numa seresta cantada em versos, num tempo vindouro prenhe de surpresas, uma nova fronteira se avizinha. Quem já a atravessou fala de tertúlias maravilhosas no outro lado do horizonte. Dizem que imaginariamente é o ponto máximo na vida do ser humano, mas, segundo o filósofo Rousseau “a imaginação não tem fronteiras”.
A chegada do primeiro neto. Qual o impacto e a influência dessa revelação?
Falam em mudanças de vida, e as decorrências de tais evoluções. Porém, a tônica que se apresenta nas narrativas sobre o assunto, não lançam luz ao entendimento. Descoberta e advento inexplicável. Justificam-se dizendo que só conhecerá o contexto quem cruzar a divisória do que há de vir.
Discorrem ainda que a novidade propõe uma abolição do passado, que o tempo se altera e a história passa a ser reescrita, ou simplesmente começa uma nova. Uma geração sucessora. Nada permanecerá da mesma maneira. Temos refletido muito sobre tal abordagem. Futuro que se aproxima de nós. Experiência que se revela em embrião, cheia de pontos de interrogação.
Nessa perspectiva, nos desperta um enorme interesse: pensar no início e no fim. Sim, sem dúvida, na chegada do neto na família os avós se voltam para reflexão sobre o Alfa e o Ômega. O Princípio e o final sem fim: a eternidade. Havemos, para tanto, de ser visionários.
Concebemos pensar conforme a teologia cristã: “nós somos a manifestação que Deus faz de si mesmo neste mundo”. No Gênesis, relato da Criação, Deus é ação, verbo, criador de todas as coisas. O Salmo 33 nos ensina: “O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração”. É nisto que confiamos. O aprendizado que vem de linhagem em procedência, sempre abençoado pelo Senhor. Ele é que contempla todas as obras dos seus amados filhos.
Fizemos nossa parte, nossas filhas fizeram suas partes e agora esperamos o mesmo do neto que vai nascer. Desse modo, rogamos: vem desejado e amado filho de nossa filha. Vem começar uma nova era. Estamos ansiosos pela sua vinda, contando dias e meses que antecedem a sua chegada. Atende aos nossos anseios de avós já amorosamente encantados com teus movimentos na gestação.
E quando ganhar o mundo chegue como uma criança abençoada, bem-nascida pelas graças dos Céus. Euforiza as nossas virtudes, apaga as nossas vicissitudes. Impulsiona com intensidade nosso desejo de brincar como crianças. Faz-nos esquecer de códigos da vida e das dores da idade. Deixa-nos exacerbar afetos. Permite-nos sermos patéticos, sem cobranças insólitas. Dar-lhe exemplos, e não modelos. Mova-se conosco no caminho para, sem apressar o passo e com liberdade, quebrarmos juntos regras e hábitos conformados. Tira-nos as marcas da vetustez. Os traços da ancianidade. Pinta em nossas faces hieróglifos, textos e linhas indecifráveis.
Então, façamos magias juntos. Vamos traquinar! Exploremos o mundo. Passeemos a pé sem interferir nos passos um do outro. Maravilhemo-nos com a Mãe Natureza, saboreemos o doce mel dos seus frutos. Sentemo-nos na areia da praia, na relva dos campos. Mergulhemo-nos em rios e lagos. Tomemos banhos de chuva, nos joguemos na lama. Rompamos barreiras, pulemos muros. Corramos dos totós e tentemos cercar galinhas em disparada. Construamos um mundo novo, vivamos cheio de energias positivas. Queremos nos espelhar em você num imaginário sem controle, num corpo dançante, numa alma leve e num coração alegre.
O fim de uma viagem é apenas o começo doutra, é contrariando esse pensamento de José Saramago que apresentamos o desejo de que nossa viagem não acabe nunca. Os viajantes acabam, diz aquele escritor português, mas, ele também ensina querido e amado neto, para que você prolongue eternamente em memória, em lembrança, todos os dias, meses e anos que viveremos a alegria de sermos seus avós. Amém!
Bênçãos.