Uma Vida Transformada!

Quem me vê hoje, jamais imagina que eu, um dia, estive completamente alijado da vida em comunidade. Na verdade, para os que me conheceram no passado, dos quais alguns que eram mais achegados à minha família ainda sobrevivem, a minha vida e a transformação que vêem em mim são atribuídas a um verdadeiro milagre.

Quantas vezes alguns deles não tiveram que sair à minha procura pelos caminhos do deserto? Ou nos penhascos e despenhadeiros que são abundantes em nossa região?

Quantas vezes, às altas horas da noite familiares meus, acompanhados de amigos ou vizinhos não foram ao cemitério para me buscar e me conduzir para dentro de casa a fim de tomar um banho, trocar de roupa e dormir com tranquilidade devidamente aquecido sobre uma cama com lençóis limpos?

Não obstante todo esse cuidado, a minha família chegou até a permitir que as autoridades me aprisionassem com cadeias e grilhões de ferro visando a minha proteção, porém, sem sucesso algum porque eu as arrancava de mim como se fossem cordões de linho. Enfim, chegou um momento em que ninguém mais se importava comigo. Passei a viver mesmo, em meio aos sepulcros. Parecia mais uma fera ensandecida, coberto de farrapos e quase nu, cabelos em desalinho, sujo e ameaçadoramente temível.

Sim, meus amigos. Vivi assim durante bastante tempo. De fato, muito mais tempo do que eu pessoalmente desejaria ter vivido, e um período que eu não desejo que qualquer pessoa viva, por menor que seja esse tempo.

Poucos compreendem essa realidade, e por isso estou transferindo, com a sua permissão, para o autor desse texto que se situa no futuro distante, a responsabilidade de elaborar essa crônica narrativa da minha vida.

A grande verdade é que adoeci e fui acometido por alguma razão que eu desconhecia, de surtos de violência contra tudo e contra todos, tornando-me uma ameaça para a minha família, para a sociedade e para mim mesmo.

Acrescente-se a isso a ação oportunista do Mal, interpretada e atribuída por mim a seres espirituais diabólicos, ou, espíritos malignos que me levavam a viver naquelas condições desumanas tão degradantes, e dos quais fui interiormente libertado incluindo aqui toda a sujeira espiritual, moral e social que caracteriza uma vida aprisionada às Trevas.

Para mim a vida tornou-se um inferno! Eu tenho autoridade para dizer isso, por ter vivido na antessala dele, e posso assegurar que ele não se limita apenas à interpretação que o relaciona aos sofrimentos físicos vivenciados aqui na Terra. Ele é, de fato, uma realidade atemporal, metafísica e espiritual, governado pelo Mal e sempre por ele, jamais afetado pelo Bem a ponto de jamais poder se transformar em algo bom.

As forças espirituais da maldade, elas existem. São reais e são essencialmente governadas pelo diabo, cujo interesse e propósito são os de destruir no Homem criado à imagem e semelhança de Deus, a essência divina e o padrão divino de existência, mesmo no plano físico, terrestre, palpável que é a nossa vida aqui neste mundo.

Foi assim que eu me apresentei a Jesus naquele dia, nas proximidades do Mar da Galileia e na região conhecida como "região dos gerasenos ou gadarenos".

Tão logo avistei Jesus, fui até ele, ameaçadoramente, dizendo-lhe: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo. Você veio até aqui para me atormentar?"

A região dos gadarenos era a mesma identificada por Decápolis, estendendo-se por um vasto território compreendendo várias pequenas aldeias de pescadores e pelo menos dez cidadezinhas maiores. Havia guarnições de soldados romanos naquela área, os quais patrulhavam as atividades comerciais em toda a extensão das margens do mar da Galileia para se certificarem do recolhimentos das taxas e impostos devidos ao Império Romano.

Como eram romanos, considerados gentios ou, não-judeus, eles se alimentavam também da carne suína, proibida para os judeus pois era considerada imunda, segundo as orientações do Levítico, mas permitida aos soldados não-judeus. Por isso, havia na região vários granjeiros que mantinham o comércio de porcos cuja carne servia para o consumo na alimentação das guarnições militares romanas na região.

Voltando à minha história, como era comum atribuir a espíritos malignos os dissabores e consequências dos transtornos psiquiátricos, entendi que Jesus, usando de terminologia própria e respeitosa para o conhecimento humano da época, havia ordenado aos espíritos malignos que me deixassem em paz e, por insistência desses, permitiu que acometessem uma grande quantidade de porcos que pastavam por perto e que acabaram se precipitando pelos despenhadeiros terminando por se afogarem no mar.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, Jesus se aproximou de mim, abraçou-me com ternura e me acolheu em seus braços, como há muito tempo eu não era tratado, sem discriminação, sem pré-julgamento, sem prevenções, sem temores ou recriminações.

Ele simplesmente me abraçou e me fez sentar aos seus pés. Jamais havia sentido tamanha paz. Sentia-me completamente curado de toda e qualquer perturbação. Dos meus olhos, apenas lágrimas escorriam-me pela face e, no meu coração, uma profunda gratidão por Aquele que havia me curado dos surtos de violência e me libertado do estigma imposto pela sociedade que me considerava oprimido e possesso por demônios.

Assustadas com os acontecimentos, e como eu compreendi depois, mais por causa da perda da sua fonte de lucro que eram os porcos que haviam se afogado do que com a minha recuperação, os granjeiros fugiram do local e chegaram à cidade anunciando todo o ocorrido e, é claro que este episódio causou um grande alvoroço, a ponto de vários moradores da cidade e aldeias vizinhas acorrerem ao local para saberem o que tinha acontecido.

Ao chegarem, ficaram admiradas por me verem sentado aos pés de Jesus, manso, absolutamente calmo, tranquilo e perfeitamente lúcido, como se eu jamais tivera sofrido qualquer surto de violência ou algo parecido.

O futuro iria reconhecer que Jesus me curara dos surtos psicóticos e da esquizofrenia, enfermidade que atinge as ligações neurais do indivíduo e, à época totalmente desconhecida, razão por que, atribuída à atuação do Mal na mente de uma pessoa que perde a sua própria capacidade cognitiva.

Embora isto seja cientificamente comprovado, não excluo a possibilidade de ser também explorado pelo que se conhece como sendo as "forças espirituais da maldade nas regiões celestiais ou, metafísicas" a ponto de serem atribuídas ao diabo, as suas consequências e resultados danosos.

Passados os primeiros momentos de admiração e curiosidade, logo aquela admiração transformou-se em rejeição à presença de Jesus na região. Fiquei estupefato quando percebi que aqueles gadarenos estavam pedindo a Jesus que se retirasse das suas terras, possivelmente temendo que o Mestre pusesse fim à matança e ao comércio da carne de porco, fonte da economia local, embora abominável para os judeus.

Sem questionar ou sequer recriminar a atitude egoísta e segregadora daqueles homens, Jesus se levantou e já se preparava para partir na companhia dos seus discípulos quando eu o interpelei e supliquei a Ele que me permitisse segui-lo.

Com a mesma ternura e demonstrando imensa compaixão, ele me disse: "Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti." E, em seguida, alcançando a estrada poeirenta, prosseguiu na sua caminhada.

Ainda hoje eu me pergunto: Por que Jesus decidira passar por aquele lugar?

Por que sujeitou-se à rejeição egoísta dos meus conterrâneos?

Com certeza Ele fez isto por mim. Com certeza Ele sabia do meu tormento, das minhas dores, da minha própria rejeição e da situação vexatória pelo que eu enfrentava durante os surtos psicóticos.

Quanto amor! Quanta compaixão e quanta misericórdia no coração do Filho de Deus por mim!

Naquele dia eu voltei para a casa dos meus pais e durante os anos que se seguiram, sem experimentar qualquer recidiva na minha enfermidade psiquiátrica e completamente liberto da opressão do Mal em minha mente, transformei-me no fiel discípulo do Mestre e divulgador dos seus ensinamentos para os da minha casa, da minha família e dos amigos.

Como poderia eu me calar, diante do grande amor de Deus por mim?

E é por isso que transferi para este autor, a responsabilidade de anunciar, mesmo no futuro tão distante da minha própria realidade, tudo quanto Deus fez por mim.

O que você acha de conhecê-lo?

Por que não buscar o conhecimento de Deus?

Por que não permitir que Jesus faça parte da sua história de vida?

Por que não divulgar para as gerações futuras o que Jesus fez na sua vida ao invés de celebrar o Halloween?

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Primavera de 2021

31/10/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 31/10/2021
Código do texto: T7375340
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