Crueldade
Tem umas pessoas, “adultas”, que me lembram crianças, crianças maldosas, crianças cruéis. Provavelmente, este adulto, foi a criança cruel da escola. Ou será que foi a criança em desvantagem da escola? E hoje, já conquistado certo nível de poder, status profissional, repete com os menos favorecidos as atrocidades que sofria quando criança ?
Não falo de agressões físicas. Falo de pequenas humilhações, que só uma criança cruel sabe impingir a outra, mais frágil.
Tinha poucas amigas, era uma criança que sempre brincava só. Não por que a mãe não deixava, por que gostava mesmo de ficar assim. Tinha um companheiro de brincadeira. Tião. As casas eram separadas por uma cerca de arame. Brincavam assim: Tião do seu lado e ela no seu. A cerca não era empecilho nenhum para brincadeiras, já que a criatividade dos dois era suficiente para tornar o fato da falta de proximidade um mero detalhe. Não precisavam compartilhar o mesmo espaço, suas almas se encontravam assim mesmo.
Às vezes brincava com uma menina da rua. Ela vinha e a chamava no portão.
Brincavam de pega pega, esconde, bola e amarelinha. Havia outros dias em que apenas via a menina brincando, com outras meninas pela rua.Riam e se divertiam a valer. Mas nestas ocasiões a menina não vinha chamá-la no portão. E se por ventura ela tentasse se juntar ao grupo era repelida. Criança cruel, este é o exemplo. Quem é que nunca passou por isso? Amigos que na verdade estão ao seu lado apenas por conveniência, para usar o seu carro, ou ser convidado para aquela festa, onde todos os que realmente “importam” vão estar? Era assim, a menina quando só, batia ao portão. Quando cercada de amigas e adulada em sua vaidade esquecia daquela que lhe fazia companhia. Certa vez, munida de rancor e uma pedra pontuda, rebateu a indiferença, fazendo um corte na perna da menina, a menina com suas aduladoras.