A dignidade que vem do Céu

A dignidade que vem do céu!

 

Ele era o protótipo exato da escória humana. Um dia ele chegou em minha casa e pediu-me uns trocados para comprar um feijão. Outro dia, ele queria para comprar pão. Outro dia era remédio. Então, eu fui em sua casa. Na verdade, era um porão de uma residência, onde por misericórdia, alguém deixou que ele, mulher e três filhos morassem. Sujeira, mofo, ar rarefeito. Eu me imaginava dormindo ali com a minha rinite alérgica. Ai! Ai!

O fogão e geladeira eram um montão de latas velhas enferrujadas, corroídas e amarradas por arames e o resto, incluindo um cachorro pulguento, eram restos mesmo. Expulso da polícia encontrava abrigo nos braços da cachaça que boazinha como ela é, não queria e nem deixava que ele trabalhasse. Ela dizia para ele, trabalhar para quê? Você se cansa, se aborrece. Não vá não, fica comigo. Nos meus braços você encontra abrigo, pois não sente frio, dor, não chora e principalmente esquece. Esquece que tem mulher, filhos, boca e estômago, esquece que você é escória, que nunca teve pai, mãe, DEUS!!!!!!!

Sua mulher descobriu uma igreja e levava os filhos também. Alguém disse para ela: Vinde a mim você que está cansado e oprimido e eu vou te aliviar... (Mat. 11:28 -30). Ela acreditou que havia descoberto um guru, xamã, sei lá. Desses que moram em templos e se apresentam através seus representantes fazendo milagres...

Bem, ela foi para lá. Eles bonzinhos não cobravam os dízimos dela, mesmo porque, dízimo de quê? Única obrigação para ganhar cesta de alimentos providenciado pelo departamento beneficente: Frequentar a igreja, escola dominical, culto matutino, culto de oração e com as crianças. Mas eles queriam era comida, roupa, tênis nos pés...

Todos os domingos de caras amarradas traduzindo fome e inconscientemente incompreensão pelo que é a "vida" e por isso mesmo, sem sorrisos nos lábios eles estavam lá. Lição das revistas da EBD, pregação com os tradicionais sermões pastorais falando de valores, valores santos, valores como o amor de irmãos (de igreja), de família, de pátria, de pai e mãe, de DEUS!!!!

Mas o pai está bêbado em casa dormindo e as barrigas continuam reclamando...

- Mais o marido da senhora não toma jeito mesmo. Ele não quer parar de beber, não houve a gente, não quer nada com Deus. O que a gente pode fazer, heim irmã? É, vamos continuar orando.

 

Eu ouvi um pouco da sua história, sua infância, sua adolescência, mocidade. Quantos fatos tristes, recalques, neuroses...

O que o ser humano não sabe (de forma consciente) é que ele nasce já carente de afeto e segurança. Quando o homem perdeu Deus lá no Éden e essa história não é da carochinha não, muito pelo contrário é muito mais séria do que se pensa, aliás, a maior tragédia da humanidade de todos os tempos, ele perdeu em consequência, esse afeto e essa segurança e as suas referências. Blaise Pascal em outras palavras traduziu; " Há um vazio dentro do homem do tamanho de Deus. Esse vazio é a ausência de Deus."

Quando o bebê nasce se busca levá-lo à mama para o primeiro alimento da vida. Ele na verdade quer o seio como o regaço, domínio do afeto e castelo da segurança. Ele não quer e não precisa de alimento naquele hora. Nesse sentido, quando o leite escorre para a sua boca, o seu cérebro fará sempre a mesma leitura. "FALTA DE AFETO E SEGURANÇA REQUER COMIDA".

E aí, como ele tem essas carências, come no mínimo durante sua vida com certeza absoluta no que afirmo, setenta por cento além de suas reais necessidades.

Mas voltando ao nosso personagem, ele sem afetos e seguranças adquiriu muitos desafetos. Dívidas que não pagava, inclusive no armazém onde comprou alimentos fiados, empréstimos, conta de luz, água, enfim é por aí.

O pior entretanto, é que ele era muito encrenqueiro. Brigava com todo mundo a partir de sua própria casa.

Bem, vamos resumir. Os desafetos eram muitos pelo seu espirito belicoso, sua aparência antipática, pela sua vida "enrolada" etc.

Ninguém, entretanto, estava interessado em saber o porquê de seus "porquêres". Cachaceiro, irresponsável, mau caráter, péssimo pai, péssimo marido e vai por aí afora.

Na última conversa que tive com ele, ele, demonstrando cansado de tudo, de sofrer, cansado dos rótulos que arrumou para sua si, semblante bem abatido mas sereno, me disse que gostaria que sua vida fosse diferente. Não sabia o porquê de tudo aquilo, não havia realmente entendido a vida. E se nunca amou, também nunca sentiu esse amor por parte das pessoas.

-Olha meu amigo se eu não dei é porque "também nunca recebi".

Pouco tempo depois morreu. A Igreja comprou um caixão e pagou a uma funerária para preparar o corpo, incluindo uns arranjos com flores. Eu estava lá presente esperando o corpo ser entregue. Quando o caixão com o corpo chegou eu o abri para os familiares se despedirem. Só havia ali, eles e eu e ninguém mais. Pensei comigo, muito natural para uma pessoa com tantos desafetos. Então, ao abrir aquele caixão, uma surpresa e susto. Não havia uma flor, sequer uma flor ali dentro. Algo anormal havido acontecido com a funerária e ela não entregou o seu serviço como havia sido requerido e pago. Eu naquela hora questionei Deus. Eu disse: Senhor ele era tão maldito assim que nem uma flor merecia? Incontinente e na velocidade talvez da luz, alguém tocou-me por trás e eu virei-me para ver. Com uma pequena flor na mão uma menina com o rosto iluminado e um olhar transmitindo amor me falou assim: Senhor, ponha essa flor no seu peito. Apanhei a flor da mão daquele anjo transmutado em gente e olhei para o rosto dele enquanto atendia aquele pedido. Senti que ele estava... sorrindo! É, pensei com meus botões, pela primeira vez na vida quem sabe ele realmente sorri. O que o mundo sempre o negou por incompreensão e desamor, aquela criança e a flor pelo menos isso lhe ofertaram: O Respeito e a dignidade que sempre lhe faltou como ser humano.

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Melquisedeke
Enviado por Melquisedeke em 29/10/2021
Reeditado em 10/04/2023
Código do texto: T7373970
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