Rios de Dejetos
Para quem mora ou vive nos países nórdicos, nos Alpes Suíços ou no norte dos Estados Unidos, o que vou dizer é bem conhecido. Quando chega o verão, ocorre um fenômeno chamado degelo. As montanhas que antes estavam cobertas de neve começam a derreter, transformando a neve em água. Essa água, junto com musgos e árvores mortas, forma uma massa lamacenta que desce montanha abaixo, levando tudo que encontra pelo caminho. Os rios que antes eram apenas córregos secos agora se tornam depósitos de dejetos com água, pedras, árvores e lama, carregando tudo o que está em seu caminho.
Assim está o nosso país, como um rio de dejetos que, lá na curva, pode nos dar um golpe fatal. Infelizmente, esta é uma triste realidade. Mesmo que pressintamos isso, quem tem o poder nas mãos não percebe ou finge não perceber. Talvez estejam comprometidos com essa lama de dejetos descendo a ladeira, levando tudo o que antes era nosso e dava lucro ao país. Estão vendendo nossas estatais a preços de banana, alegando que o Estado deve ser mínimo e não pode administrar o que antes dava lucro e agora não interessa mais.
A educação, que antes permitia que nossos estudantes estudassem no exterior para que o país pudesse ter pessoas habilitadas e preparadas para enfrentar um mercado de trabalho cada dia mais exigente, está sendo sucateada. O que é público está sendo degradado para que possam dizer que essas empresas e autarquias não funcionam. Mentira. Dizem ainda que, se forem entregues à iniciativa privada, elas produzirão melhor e terão melhor desempenho no mercado. Tudo isso faz você acreditar que nada público funciona, que tudo é péssimo e que os serviços são cabides de empregos de péssima qualidade.
Tudo se transformou em um rio de lama e dejetos, destruindo tudo que está pela frente: nossa economia, nossa democracia, nossos sonhos e nosso futuro. E ainda, lá na curva, há a possibilidade de enfrentarmos um golpe.