Sonhar museu e o MCJP

          Os intérpretes populares, desde os povos antigos da Babilônia, Caldeia e Judeia, faziam com que o significado dos sonhos fosse conceituado como uma arte, uma prática popularizada, na boca do povo, já dando sugestões ao quotidiano, o que movimentou, no século II, Artemidoro Dalidarius compilar essas então correntes explicações, num dicionário. Não eram explicações como as de Jung, McDougall, Zenner ou Freud, mas tinham o cunho de dizer o que estaria próximo a acontecer, mais ou menos, como se usa o sonho para o “jogo do bicho”, que orienta a parada da roleta, em vaca ou borboleta, ou em qualquer milhar, em que conste o bicho do dia. Dentre essas interpretações, sonhar com museu não significa propriamente alguma coisa com a museologia. Mas, visitando-o profetiza que “um êxito virá mais tarde”; se em companhia da pessoa amada, que “preocupações ou perturbações da vida se dissiparão”; ou visitando-o com a família, que “virá realizar altas ambições ou fortes desejos”. E se sonha, sem visitá-lo, “haverá descoberta de objetos valiosos”, de coisas perdidas ou, no interior, quiçá de uma botija. Ou como o sonho de Isporina, o cego, prevendo a Cesar os aziagos “Idos de março”.
          João Azevêdo sonhou acordado, idealizando museus, e como Governador, recuperando edificações patrimoniais, que enchem a rua ou a praça de beleza; colocando dentro delas memória, história, cultura, coisas, fatos e pessoas, protagonistas do nosso universo cultural. Sonhou ele, assim, concretizar o que se verifica na realidade, como é o caso das expressivas obras, na Praça da Independência, hoje tornada, depois do Ponto de Cem Réis, o coração da cidade. Não é de qualquer cidade, dentro ou fora do Estado. Mas, nominalmente, daqui mesmo, como se chama a nossa querida urbs... Também a casa, onde morou  o vulto histórico e político João Pessoa, trazendo de volta o seu espírito à sua antiga morada, para ele reviver sua história, sentando nas suas cadeiras, comendo à sua mesa, reassumindo o seu bureau, em que escreveu tantos decretos, modificadores da então tradicional política, no Estado, e também certamente onde escreveu a palavra Nego, liderando a postura de governos estaduais, contra costumeiras maquinações para somente São Paulo presidir o país.
          Enfim, no MCJP, também haverá outras coisas e fatos da vida de João Pessoa, inclusive a mesa da sua morte, na Confeitaria Gloria, em Recife, móvel cedido ao MCJP pelo egrégio IHGP. O MCJP exporá ainda vida e culturas do nosso meio, até mesmo seu ecológico verde, traçando o jardim, com canteiros, plantas, palmas e roseiras, usadas naquela época, o que foi pesquisado por Sonia Gonzalez e projetado pelos arquitetos paisagistas Pablo Máximo e Rebeca Cavalcanti. Coube ao Coordenador do MCJP, Diógenes Chaves, artista e curador de exposições, em conversa com os curadores Marcos Lontra e Raul Córdula, arrumar a vetusta mansão, também auxiliado por Debora Oliveira, Chico Pereira e todos que fazem a Secretaria de Estado da Cultura. A Secult muito se honrou em se responsabilizar na condução das incumbências e providências, tão ajudada pelas outras Secretarias de Estado. O sonho de João Azevêdo é longo e forte, garantindo-nos, em continuidade, a sistematização, na sua política pública, dos museus paraibanos; e também, nesse próximo 4 de novembro, transformar o palácio do governo em museu, casa aberta ao povo que se alternará ao visitar o Museu da Cidade de João Pessoa, o vizinho Museu de Artesanato, também obra do sonhador, e muito brevemente o Museu da Paraíba Palácio da Redenção (MPPR). Museu, como o Museu da Cidade de João Pessoa, exalta os que o sonharam, os que o realizaram, e, sobretudo, os que o visitarão.    


DESTAQUE: João Azevêdo sonhou acordado, idealizando museus