RATOS NO ALVORADA
Na rataria os de colarinho branco, os engravatados, soberbos, comiam caviar e queijo suíço. Os vinhos eram dos bons, os mais caros.
As reuniões nem havia assuntos importantes. Apenas servia de pretexto para estarem ali; fazendo de contas, insinuando preocuparem-se com a plebe, por passar dificuldade.
O que era corriqueiro: maquinar contra alguém, supor conspirações, ou inventar inimigos!
Extraordinariamente, as sextas-feiras como de costume, eles chegavam um a um.
Acomodavam-se nas cadeiras; nas poltronas palacianas de veludo, nos sofás de couro fino. Eram vários: uns de cabeça preta, outros de cabeça cinza e alguns de cabeça branca. A maioria deles baforavam um charuto cubano, enquanto falavam.
Naquela sala imensa, suntuosa, com quadros caros dependurados na parede, um deles destoava daquele ambiente monarca, pois era moderno demais, intrigante. Naquele quadro, com a cor preta, havia apenas a inscrição num tom branco, que dizia: "Canalhisse na corte."
Todos não estranhavam tal inscrição, porque sabiam o real propósito de estarem naquele lugar. Estavam acostumados naquilo: queijos, vinhos, charutos, falcatruas e conspirações.
Certa vez, um deles, um de língua presa, o mais desajeitado até na compostura, quis inovar, propôs beberem somente leite nas reuniões.
Óbvio, todos foram contra aquela ideia mesquinha. Mas o problema foi que aquele débio roedor, já tinha comprado o bentido leite para o próximo encontro.
Consternados, os ratos voltaram mais cedo para casa, e sem saber que cada lata tinha custado milhões.
😜😜😜
Carlos A. Barbosa