8 - Preconceito

Ao encontrar uma pessoa pela primeira vez nosso cérebro recebe em sua escrivaninha uma enxurrada de relatórios.

São muitos dados para analisar, e isso tem de ser feito rápido, o chefe está esperando! São relatórios dos sentidos – visão, olfato, tato, audição. Só este monte de papel já faz uma grande pilha, e esta não para de aumentar, pois a pessoa continua se movimentando, falando, agindo.

Desesperado, o cérebro lê a capa de cada relatório, deixando o que julga supérfluo de lado. Não há tempo para tantos detalhes! Vai ao arquivo da memória fazer consultas a registros semelhantes. Decide-se como agir baseado em padrões aprendidos.

E é daí que surge algo a que chamamos preconceito. Aqui vou me limitar ao preconceito que emerge ao encontrar um estranho.

Este preconceito é a sentença de um julgamento prático, baseado em dados superficiais, montados com rapidez e com baixo gasto energético, fazendo uso de imagens e conceitos pré existentes. Tudo precisa ser ágil, pois a dinâmica da situação assim exige.

Uma definição de preconceito dada pelo site www.dicio.com.br é: “Juízo de valor preconcebido sobre algo ou sobre alguém que se pauta em uma opinião construída sem fundamento, conhecimento nem reflexão”.

“Sem fundamento, conhecimento nem reflexão” diz exatamente sobre o que estamos analisando.

O cérebro é uma máquina cujas engrenagens, aprimoradas por milhões de anos, hoje fluem numa célere e precisa dança: as peças, despudoradas, fazem amor umas com as outras.

Portanto, o que temos de imediato é o que nos é útil: informações (informações? Veremos logo a seguir) sobre o desconhecido perante mim. E isso é normal e esperado nesta situação.

É preciso dissecar: preconceito nem sempre está errado. Existe uma chance dele mostrar a verdade em seu julgamento. Afinal, nasceu do extenso processo de evolução cerebral. É por isso que é tão difícil extirpar o preconceito do nosso dia a dia: às vezes ele funciona.

Uma abordagem consciente deveria nos revelar o caráter de jogo de azar deste problema: qual a chance do preconceito acertar em determinado caso? 50%? 10%? 5%?

Para nossos ancestrais, as chances do preconceito acertar era maior. Um homem das cavernas, batendo os olhos num outro desconhecido, trataria de tomar uma atitude o mais rápido possível. Ali está, com grande probabilidade de acerto, uma ameaça a seu habitat, seu território de caça, suas mulheres.

Mais assertivo ainda é o preconceito quando o réu é um animal. Diante de um leão na savana, o homem nem pensa duas vezes, põe-se logo a correr.

Dois homens se encontram por acaso. Ambiente para empreendedores, assuntos comuns, oportunidades pairando no ar. É hora do break. Um loiro e outro moreno, só para podermos diferenciá-los. Cumprimentam-se formalmente e passam um pelo outro.

O loiro pensa: “não animo a expor meus negócios a este cara, ele não me passou confiança”.

O moreno: “o sócio de que eu preciso tem de ter postura, não pode ser esse baixinho de terno barato”.

E então, todo um futuro pode ser construído ou abortado, baseando-se em ideias preconceituosas.

Contrapondo-se a um bom perfume, o preconceito não deveria se reter por muito tempo na pele. Ele precisa se evaporar sob o fulgor da consciência. Precisa ser domado: é um dos animais selvagens de nossa psique.

Quais as chances tem seus preconceitos de acertarem?