SOU EU, MACULELÊ... SOU EU !

SOU EU, MACULELÊ... SOU EU !

São agora 5 e meia deste belo sábado e acordo de mais um longo sonho, foram 2 esta noite... neste, encontro mestre Fernando Rabelo numa pracinha onde há na grama vários desenhos precários (alguns são colagens, o que não é a mesma coisa) com características infantis, menos um, cuja autoria reputo a um adulto ou jovem com noções artísticas. Ao lado da praça há uma tenda com a tal exposição, estando no interior dela quadros grandes, semiprofissionais -- que eu já vira, suponho que em outro sonho -- e que Fernando concorda que já vira também... e essa, agora ?! Estaria êle num sonho anterior meu ?! Com pequenos baldes com água apago um princípio de incêndio no "barracão" e cedo água para Fernando lavar as mãos.

Estamos agora num ônibus, lotação, coletivo em boa parte do país, após exibição de Capoeira, mestre Fernando comentando admirado o Maculelê feito por meu irmão... a Capoeira, Saber antigo, tem a noção de que para se ter OS MELHORES dela é preciso existir os menos capacitados. A moderna Capoeira pretende ser uma prática onde só os muito bons se apresentam, quem sabe pouco que fique de fora: "Pé dentro, pé fora... / quem tiver pé pequeno, / que vá embora" !

As origens do MACULELÊ -- no Brasil, pelo menos -- remontariam a Santo Amaro da Purificação, no interior baiano, tendo um certo mestre "Popó" como o cultivador inicial ou mais proeminente. Assisti no SESC de Belém em nov./1987 filmagem antiga registrando a prática com mestre "Popó" lá, não lembro se com mulheres no meio, a Capoeira era reduto masculino. Curiosamente não havia treinos de Maculelê no Grupo SENZALA dos anos 70, quem o mostrava já conhecia de antemão e os demais aprendiam vendo. Vi recentemente um vídeo de 1995, de Batizado em Belém, no qual o mestre agora evangélico fez Maculelê cantando o "Sindorerê" ou algo semelhante... são canções do Candomblé, "pontos de Santo" ou algo parecido, homenagem a deuses africanos. É curiosa essa estreita ligação musical de uma prática guerreira com a Religião de seus ancestrais. Seria o Maculelê em tempos milenares uma "extensão" do Candomblé ?! Talvez os que fossem para uma guerra tribal -- evento comum em toda a África -- o praticassem no "terreiro", no "gongá", na "matinha", como pedido de proteção aos deuses ou derradeira homenagem.

A origem do Maculelê se perdeu nos tempos... meu irmão supõe que seja indiana, mais do que africana, entendendo êle que seriam os hindus o povo mais antigo. Escavações provam que o Homo Sapiens nasceu na África há uns 40 mil anos, a cultura do ferro, as Artes (esculturas, sobretudo) e um bocado de outras coisas também. Quem quiser pesquisar imagens e vídeos de "danças com pau" (STICKDANCES) na Internet verá várias delas na Índia, sem ou com paus ou punhais, com nome diferente em cada região. As verá ainda na Inglaterra, me parece que na Irlanda, em Portugal e no Brasil, a partir da Congada, do Cacumbi (ou Catumbi) mineiros e em danças gaúchas, claro que com as "reinvenções" modernas que inconsequentes introduziram nelas, além de as tornarem "mais velozes", qualidade (?!) que povos primitivos desconheciam em regiões onde o Tempo inexiste. Falo desse Tempo "esquartejado" em minutos e horas, em noite e dia, cada coisa "com hora certa" para acabar... e começar ! Manias DE BRANCO !

Nos tempos antigos as saias de Maculelê eram feitas de sacos "de estopa", aqueles marrons, desfiados, desmanchados, mantendo apenas faixa intacta para a "cintura da saia". Hoje usa-se sacos "de fio plástico branco" (?!), antinatural e as mulheres "rebolam" como se fosse "dança do ventre", o que o descaracteriza. Maculelê é dança GUERREIRA, exige que o sexo feminino "esqueça" por momentos seus cromossomas Y ! Pior... não há pau que resista, tal a violência das batidas e, quando com facão, quem assiste ao redor corre riscos. O "macete" -- que ninguém ensina -- é levar o pau com energia é "pará-lo" no encontro com o do adversário, mas isso só se consegue em ritmo antigo, lento... no atual, moderno, fica IMPOSSÍVEL !

"NATO" AZEVEDO (em 23/out. 2021, 6hs)