Na Vela e no Candeeiro, onde havia energia elétrica.
Nas minhas andanças por quatro estados nordestinos, passo por cinco municípios ribeirinhos do São Francisco. O último deles, Traipu, no interior de Alagoas, com muita carência do serviço público. A cerca de 100 metros de nossa casa, havia uma costureira, a quem minha mulher recorria para pequenos serviços de costura. Certa vez, ela alegou atraso na entrega de encomenda, porque à noite tinha de recorrer à luz da vela ou do candeeiro. Entretanto, à frente de sua casa, havia um poste, por onde passava a rede elétrica. Assim, achei que seria muito fácil substituir sua vela ou candeeiro pela luz elétrica. Convidei o único eletricista da empresa de luz elétrica da cidade, e instalamos três pontos de luz na casa da costureira. Pelo custo do serviço, percebi que não foi por falta de poder aquisitivo que ela não instalou antes, a luz elétrica, mas apenas por falta de iniciativa. Às vezes a pobreza de ideia é maior que a pobreza material.
Pelas costuras ou pela luz, a costureira fez amizade com minha mulher, a ponto de nos convidar para padrinhos de um de seus filhos. Tornamo-nos compadres.
Dali saímos e ainda passamos por mais três cidades alagoanas, até chegarmos a Maceió, onde me aposentei.
Mativemos o hábito de visitar as cidades por onde passamos, principalmente aquela cidade ribeirinha, por gostarmos de passear de barco pelo rio São Francisco.
E, entre as pessoas visitadas, a costureira não é esquecida, não só pelo compadrio, mas pela alegria com que nos recebe.
O três pontos de luz foram ampliados, de modo que televisão, geladeira e outros eletrodomésticos ali hoje funcionam normalmente, sem nenhuma saudade da vela e do candeeiro.