Um amor que eu nunca iria viver

- Eu podia te amar até o último dos meus dias. Senti isso desde a primeira vez que te vi. - Falei.

- Tenho certa dificuldade em acreditar nessas coisas.

- Imagino que tenha.

- É muito fácil falar. As pessoas abrem a boca pra dizer as coisas mais bonitas quando é conveniente. Mas é muito difícil que ponham tudo em prática.

- Você está certa. Mas ainda assim está dito.

- E por que você está me dizendo isso tudo agora?

- Porque eu não falei quando deveria ter dito. Mesmo sabendo que você não teria me ouvido.

- Eu teria ouvido... – ela respondeu, passando as mãos nos cabelos.

- Mas não teria acreditado. Ou levado a sério.

Ela não falou nada dessa vez. Pegou o copo de cerveja e tomou um gole.

- Você não precisa de um homem que te ame nessa intensidade. Nunca precisou. Você sempre quis algo mais prático. Algo que você consiga segurar nas mãos... que não escape dos teus dedos.

- Quem te disse isso?

- Teus olhos... Desde a primeira vez que te vi eu soube que não era pra ser. Mesmo assim eu senti. E talvez até continue sentindo...

- Acho que você só me amaria na teoria. Na prática seria outra história.

- Pode muito bem ser verdade.

- Tenho quase certeza...

- Você tem muitas certezas, meu bem... Eu não faço questão de ter nenhuma.

Depois de alguns segundos de silêncio ela se levantou da cadeira. Esvaziou o copo e abriu um sorriso.

- Queria que tivesse sido diferente.

- Eu também. -Falei, sem conseguir olhar nos olhos dela.

- O mundo é enorme. Deve ter várias mulheres exatamente como você espera por aí.

- Talvez. Tanto faz.

- Tanto faz por quê? - Ela perguntou.

Não respondi, e depois de algum tempo ela se despediu e começou a se afastar.

Quando ela estava longe o suficiente para não ouvir, eu finalmente pude sussurrar...

- Tanto faz... porque nenhuma delas é você...

Apesar da distância, tive impressão de que ela tinha ouvido as minhas palavras.

Ela parou e me olhou uma última vez antes de desaparecer na esquina.

Enfim, não tinha sobrado nada daquela história, além das cinzas de cigarro espalhadas sobre a mesa, e um copo de cerveja com uma marca de batom

como se fosse uma cicatriz de um amor que eu nunca iria viver...

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 23/10/2021
Reeditado em 23/10/2021
Código do texto: T7369504
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