Mini crônica: Sobre mesas
Foi no inverno que estas considerações sobre mesas lhe vieram a mente. Não gostava do inverno, ou melhor, detestava-o, odiava-o e só não dizia isso em alto e bom som, para todos ouvirem
por a respeito a Deus. Somente por isso.
Estava ele jantando sentado à mesa na casa de sua mãe e sofrendo por causa do inverno, quando percebeu que um friozinho lhe tocava as mãos e os braços que repousavam sobre a mesa.
Afastou a cortina para verificar se a janela estava bem fechada; estava. Olhou para a porta e verificou que também estava bem fechada. De onde viria então esse friozinho que o incomodava? Descobriu que vinha da mesa. Colocou sua mão espalmada sobre ela e confirmou; a mesa parecia uma pedra de gelo. Também pudera a mesa era de mármore! Quem será que foi o infeliz que tivera tão horrenda idéia?
Uma mesa de mármore era uma mesa morta, fria, egoísta e estúpida. Ainda mais no inverno.
Lembrou-se então da velha mesa de madeira que havia na casa de seu avô e teve saudade dela. Era como se a mesa fizesse parte da família. Antigamente não se trocava a mesa. Mas hoje tudo é diferente. Os tempos mudaram. As pessoas mudaram. As mesas mudaram e não existem mais avó, avô, tio, tia, “ sinhô” ; só “você” .
A última moda hoje, são as mesas de mármore, de vidro, de granito, de metal; todas frias e estúpidas. Não que escolhessem serem assim mas o são porque são. São inorgânicas. Nunca souberam o que é vida. Diferente da madeira.
Só falta inventarem agora a cama de mármore.