Gente da roça

Levantou a mão e deu sinal para o ônibus. Era mais um dia daqueles — enfileirados um atrás do outro, como uma fila de estudantes ,desanimados, aguardando a hora de entrar para a sala de aula. Sentou-se ao lado de uma senhora de vestido de bolinhas vermelhas. Ao sentar não reparou o seu rosto. Pelo vestido não era moça nova. Teve vontade de olhar para o rosto da mulher, mas teve vergonha. Coisa mais estranha essa de sentar perto de alguém que a gente não conhece, nunca viu. Dá uma sensação estranha. Os lugares deveriam ser individuais; cada um no seu e pronto. Ficar perto de alguém que agente não conhece dá uma coisa ruim; um abafamento.

A vontade de olhar para o rosto da mulher aumentava e a vergonha também. Para complicar mais ainda, veio a vontade de perguntar o seu nome . Essas vontades ! Dizem que isso só dá em pessoas da roça. Gente da cidade não tem vergonha de ficar perto de quem não conhece, nunca viu e não sabe o nome.

Começou a olhar pela janela — oposta a que estava a mulher , é claro — para ver se distraía o pensamento e aquelas bobagens passavam , mas viu tantas pessoas desconhecidas andando pela calçada, que incomodada voltou o olhar para o seu colo. É que teve vontade de saber o nome de cada uma daquelas pessoas e achou estranho olhar para alguém que nunca mais veria. Sentiu uma coisa esquisita , parecendo saudade.

De repente a mulher de vestido de bolinhas vermelhas esbarrou o joelho dela no seu e não falou nada. Ficou esperando numa tensão absurda, mas a mulher não falou nada. Nada. Chegou a ficar em dúvida se realmente o fato teria acontecido ou se teria imaginado. Mas pensando bem, um joelho esbarrar em outro , dentro do ônibus não é nada mesmo; tanto faz se real ou imaginado. Ela é que era maluca; e da roça.

Edeilton
Enviado por Edeilton em 21/10/2021
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