Ligações

Sinto-me ligada a todos aqueles que passaram pela minha vida, tenham permanecido ou não. Aprendi e ensinei, amparei e fui amparada por gente que sempre lembrará de mim ou me esqueceu assim que nos afastamos. Cada qual deixou pegadas, digitais emocionais maiores ou menores em mim formando um imenso quebra-cabeças que me ajuda a ser quem sou, inclusive as decepções, afinal, a malícia mata a inocência. Essa ligação sempre existirá mesmo que algumas eu não torne a ver nunca mais. Pode ser que algumas recordem mais de mim do que eu delas e é natural, afinal a moeda tem dois lados.

Algumas ligações são ou foram corda grossa amarrada com nó de marinheiro, essas nem um oceano vai corroer, desfiar, desatar, chego a crer que nem mesmo a minha morte ou a delas irá nos separar. Sim, tenho e tive essa sorte. Mãe, pai, filho são as cordas que me prendem ao cais da minha alma junto com pesadas âncoras. Alguns poucos amigos também. Certos vínculos eram corrente de ferro com elos fortes em determinada época, mas foram se oxidando com a maresia, algas, mariscos, enfim, o tempo encarregou-se de enferrujar. As lembranças ficaram e as relações, foram-se.

Amizades-barbante, ligações efêmeras, também houve, do tipo de dividir apenas uma fase, um grupo específico, interesses que se bifurcaram mais rápido do que se uniram. Uma escalada. Subimos, chegamos ao topo, depois descemos seguindo cada um o seu rumo. É a vida, mas eu sempre vou recordar. É o exemplo do grupo de mães na creche dos filhos, na pracinha, colegas de trabalho e vizinhos em prédios nos quais não moro mais.

Tem ligações enroladas como os antigos fios telefônicos (essa entrega a idade). De discutir, divergir, mas não conseguir ficar longe. Desde que haja respeito a gente pode e deve falar tudo que sente para o outro. Caso não possamos ser nós mesmos ao lado de alguém é melhor que nos livremos desse excesso de bagagem. Nossa, agora lembrei da música “I Want Love” de Elton John que diz: - Me, I carry too much baggage (carrego comigo muitas questões do passado, em tradução livre). A regra de ouro é a recíproca e o respeito.

Acho que tem vínculo até feito de espaguete, que não amarra coisa nenhuma, já tive uns exemplares. Amizade só nas horas de festa, jantares, alegria. Saindo dessa temática, se espremesse não renderiam uma só gota de suco, mas valeram como companhia à época. Não por mim, que sempre estive preparada para repartir bons e maus momentos, mas se o outro gosta de ser superficial o que posso fazer? Aprendi a ter um pezinho atrás com esses, então foram boas lições que carrego comigo.

Tudo isso forma um céu estrelado de luzes mais fracas com outras se destacando mais. Vou brincando de ligar esses pontinhos brilhantes tecendo uma teia farta sobre minha cabeça e tenho a certeza que cada instante até aqui valeu a pena.