Envolta em silêncios
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Há dias assim, em que os silêncios se fazem necessários, para que a nossa alma possa gritar suas alegrias ou dores e depois voltar lentamente à calmaria.
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Nesses últimos dias, os meus silêncios têm sido mais frequentes. Entre um afazer e outro, tenho me entregado às lembranças – mais do que deveria, talvez.
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Difícil não recordar momentos tão caros do meu viver enquanto família. Quem sabe pelo fato de estar tão longe deles – meus familiares. Angustio-me a cada situação, sejam elas alegres ou tristes, sempre me vejo desejosa e em devaneios… se eu pudesse estar aí com vocês… se não fosse tão longe… quem sabe um dia, se for possível nos reunamos, pelo menos no Natal… se… A história é sempre a mesma.
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Dessa vez, lamentei mais. Não bastassem as incontáveis perdas de amigos ou conhecidos, resultantes da pandemia – o que, por si, já nos deixam fragilizados –, meu irmão mais velho, passou pela transição há poucos dias.
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Lógico que, mais uma vez, não pude estar lá, prestando-lhe minhas homenagens. Fiquei aqui, perdida em meus silêncios, que me transportaram para a minha infância… Incrível, embora permeada de lutas, é desse tempo que sinto mais saudades!
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Foi lá que me fortaleci, meu irmão, e relembrei o quão grandiosa foi sua alma, sobrepondo-se às suas danações e peripécias de criança e adolescente, e por que não dizer, também da vida adulta.
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Um pouco mais tranquila e, num interlóquio, me questiono...
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Seriam mesmo as distâncias geográficas as principais causadoras das saudades que nos levam aos silêncios interiores?
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Nesse momento, sim. Mas acredito também que estejam ligados à nossa necessidade de nos mantermos calados diante de determinados estímulos do nosso dia a dia, não importando a sua especificidade.
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O que sei é que, desde há muito, eles – os silêncios – têm sido uma constante em meus dias. Reconheço firmemente que, a mim, eles fazem um grande bem e me permitem seguir adiante com mais leveza. O silêncio é aparente, pois minha mente cruza distâncias, toca rostos, traz uma fragrância, leva um abraço.
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Ir além desses silêncios que, aos poucos, vão revelando o meu “eu reagente”, diante dos acontecimentos, só mesmo a escrita me permite extravasar tantos sentimentos.
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Uma coisa é certa: na grande escola da vida, estar em comunhão consigo é um dos privilégios humanos!
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Em algum lugar, alguém já escreveu:
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“Aprender no silêncio – da mãe, que se comunica com o filho,
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Aprender no silêncio – do sábio, que contempla o novo dia,
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Aprender no silêncio – de uma flor, que se abre à luz,
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Aprender no silêncio – da madrugada, que descansa e se refaz,
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Aprender no silêncio – do sol, que se põe e nasce diariamente,
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Aprender no silêncio – da chuva, que purifica e fertiliza profundamente…”
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Ainda acrescentaria…
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Aprender no silêncio - da alma, quando o “eu” interior se revela.