A DEUSA DAS ÁGUAS

Foi aqui nessas areias, eu dormia ao fim da tarde quente de verão. Tu me acordaste fazendo cócegas em meu rosto com as pétalas de uma flor. Foi como acordar de um sono e mergulhar num sonho. Teu doce sorriso me enfeitiçou, teu vestido simples de moça pobre, molhado, colado ao corpo de uma deusa trazida para mim pelas águas do Rio Pardinho. Então nossos olhares se encontraram, nossos corações dispararam como o rugido de um tropel descontrolado e uma força indomável uniu nossos lábios e nos amamos com a intensidade de mil vulcões. Passamos assim, o resto da tarde, apreciamos o pôr do sol e você decidiu compartilhar a barraca tosca e improvisada. Eu fotografei você iluminada pela luz da fogueira, ainda com o rosto molhado pelas águas revoltas. No dia seguinte nos despedimos, eu precisava voltar ao trabalho. Foi apenas uma semana, a mais longa de minha vida, em que eu pensava em você o tempo todo e sonhava com nosso próximo encontro. Eu contava o tempo minuto a minuto.. Então veio o fim de semana e eu corria campo a fora em busca do rio e dos teus braços. Mas a realidade, cruel e inexorável me prostrou de joelhos, incrédulo! Teu corpo jazia inerte sobre a areia, a mesma roupa molhada, Pessoas em volta, algumas chorando. As mesmas águas que te trouxeram a mim, a levaram para sempre. Ousaste amar um mortal e isso não é permitido as deusas das águas. Dei as costas para a cena e fui embora. Não queria ver teu rosto pálido e desfigurado. Teu corpo rígido e pálido como devo ter ficado por um bom tempo. Não voltei mais ao rio. Talvez os estranhos segredos do universo, guarde um cantinho para que nos encontremos na outra vida que espero seja tudo o que não temos nesta vida.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 18/10/2021
Reeditado em 19/10/2021
Código do texto: T7366418
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