O ataque vem por baixo
Mais uma noite sem dormir, procuro não tomar remédio para não me acostumar, a TV tem sido a salvação da lavoura. Vi uns oito filmes, tô virando uma Carqueja, mas vi todos pela metade, passei zapeando, não sei o final de nenhum. Na vigília andei pensando neste novo vírus que as pessoas ficam se pataqueando pernas abaixo, até esqueci o nome do bicho. Aqui no Sul ainda estão mapeando o desgranido do vírus para fins de estudos. Parece que o cagão começou os trabalhos lá pela fronteira. Mas é muita humilhação, o universo já está pegando pesado demais, pópará. Sair de casa é complicado, encontrar amigos e parentes não é viável, usar máscara é o fim moral, ter que lavar todas as compras é de última, viver abaixo de álcool e vinagre, ninguém merece. Agora mais esta, ficar de refém de um espalha bosta (é hoje que solto o verbo). Não sei, mas estamos a caminho do fraldão descartável, de repente, rir e espirrar poderá ser catastrófico. Fico imaginando que quem inventou esse novo vírus, este “virusinhu, deve ter uma fábrica de fraldas, assim como o cretino que inventou a troca das tomadas elétricas, essas que não têm um bom encaixe e que precisam de adaptadores, as mesmas que são capazes de enviar qualquer criatura mais tensa para um hospício (pior é que nem hospício existe mais). Resumo da ópera, teremos um batalhão de malucos, borrados e, possivelmente, eletrocutados, do tamanho do exército chinês. Esqueci de falar ali em cima que é bem provável que as fraldas já venham em kits, fralda, chá de rolha, hipoglós e almofada. Não que eu queira ser alarmista, pois já estamos acostumados a ouvir bomba diariamente, mas dizem que esta indisposição intestinal vai prá lá de uma semana. A coisa é séria, comentam que, do nada, a criatura tem que correr para o primeiro banheiro que encontrar e rezando para ele estar livre. Uma conhecida da família foi fazer exames de rotina em um hospital aqui de Porto e teve o sintoma. Segundo ela, foi dramático, até o guarda do hospital teve que ajudar, voava “material” até pelas paredes, ela precisou tomar banho por lá mesmo, não perguntei com que roupa ela voltou para casa. Daí me pergunto, e se o vivente estiver na rua, num shopping, numa praça, num mercado, numa igreja? Uma cachorrice destas pode acontecer com qualquer um de nós. Acredito que com isto a dignidade do cidadão jamais se erguerá, jamais seremos os mesmos, vamos virar, de vez, o substrato da bostificação. É a natureza nos carcando sem dó, mais uma vez, nos dando o troco. Já estou achando interessante nos armarmos de fraldas, muito papel – mesmo com a crise da celulose – e estoques de hipoglós. Mas dizem que o tal de vírus anda pelas fronteiras do RS (na minha opinião, vem da Argentina, porque de lá só mandam “abacaxis”, se chegar frente fria por aqui, pode apostar, não dá outra). Os cuidados devem continuar os mesmos, álcool nas mãos, nas superfícies e nada de aglomerações. E vamos na fé que a fé não faia.