Apenas uma criança!

Eu ainda era criança e não tinha muita compreensão do que a gente poderia chamar de "universo dos adultos".

De fato, em nossa cultura e os meus pais faziam questão de deixar isso bastante claro para nós, uma criança  deveria se comportar como criança e isto incluía o respeito pelos mais velhos observado aqui o princípio de que os filhos menores de doze anos de idade JAMAIS deveriam interromper ou sequer participar da conversa de adultos.

Foi exatamente por causa disso que eu me assustei quando o Nazareno me chamou e me colocou, literalmente,  bem no centro do círculo de conversa daqueles adultos.

Estávamos em Cafarnaum, cidade escolhida por Jesus para fixar residência. Devia ser por volta da hora sexta, que corresponderia ao meio-dia de acordo com o horário do Ocidente, e eu estava por perto do grupo de discípulos do Nazareno  brincando com outras crianças da minha idade mas, ao mesmo tempo interessado no que eles discutiam com certa veemência.

Percebi, principalmente observando dois deles que pareciam ser irmãos, que discutiam algo que fora objeto de muita conversa entre eles durante a viagem que haviam feito recentemente da Galileia para a Judeia. A disputa era: "Qual deles era o maior no reino dos céus?"

Aquela discussão me parecera absurda, pois afinal, mesmo ainda criança eu acreditava que no céu, ou seja, no lugar da presença do grande Eu Sou, nada é mais importante que Ele mesmo, o Eterno, e que todos os que se encontram lá encontram-se nivelados na relação de uns para com os outros não havendo, portanto, ninguém que seja maior ou menor que o outro; todos são absolutamente iguais.

É claro que estou reproduzindo com palavras, o que eu já pensava do céu naquele  tempo, embora os meus conceitos já não sejam os mesmos hoje em dia. O entendimento que tenho hoje confirma o que está escrito nos Salmos recitados em nossas sinagogas todos os sábados, em especial o Salmo 115:16 que afirma:

"Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens."  

Isto significa, também, que o Deus de nosso Pai Abraão, o Eterno EU SOU, domina sobre tudo e sobre todos com absoluta soberania, majestade e poder, e que a Sua glória é inatingível e inacessível não cabendo ao homem, portanto, pleitear qualquer posição privilegiada na Sua presença em detrimento dos seus próprios semelhantes.

E se assim é na relação Criatura-Criador, não deveria ser menos-verdade na relação criatura-criatura, independentemente de raça, etnia, cor da pele, posição social ou acadêmica, enfim, preconceitos e discriminações devem ser desconsiderados e abolidos dos relacionamentos na sociedade.

Mas, voltando às reminiscências daquele dia específico, como disse, eu fiquei espantado quando o Mestre me chamou e me colocou no centro da conversa ao tempo em que perguntava aos seus discípulos sobre o que discutiam pelo caminho. Claro que era uma pergunta retórica, pois Jesus bem sabia o que havia em seus corações, no entanto ele esperou até que alguns mais afoitos lhe perguntassem:

"Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?"

Longe, muito longe de citar qualquer nome que privilegiasse qualquer um daqueles homens, Jesus então  respondeu:

"Se vocês não derem meia-volta no que estão pensando, e não se tornarem como crianças, de modo algum poderão entrar no reino dos céus. Agora, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus."

Lembra-se do que eu disse sobre a nossa cultura e da discriminação às  crianças que, por serem crianças também não possuíam direitos por não contribuírem de forma produtiva com o seu trabalho na sociedade?

Pois bem, Jesus que era Mestre no uso de alegorias enquanto ensinava as multidões, apontando para mim e dirigindo-se aos discípulos teria dito, noutras palavras:

"Vocês não concedem a crianças, como esta que aqui está, o direito de ser uma pessoa na sociedade em que vivem, e isto é uma humilhação. Fazendo assim, vocês as tornam indignas de se afirmarem como pessoas. Ela é indefesa diante do peso da cultura e sempre estará em desvantagem na sua relação com os adultos.

Mas, aqui está uma lição a ser aprendida, pois se vocês se tornarem humildes, como uma criança indefesa e impossibilitada de reivindicar direitos; ingênuas, porém confiantes; curiosas por natureza, porém respeitosas; inexperientes, mas como a Tábula Rasa, preparadas para o conhecimento através dos ensinamentos da própria Vida, quem agir dessa maneira, será o maior no reino dos céus."

O silêncio foi absoluto!

A mim me pareceu que toda a discussão entre eles cessou ali mesmo.

E a vida continuou!

Muitos anos se passaram.

Aquele Jesus foi crucificado e morto, embora de forma inexplicável tenha comprovadamente ressuscitado.

Os seus discípulos foram dispersos por causa da perseguição dos governos, tanto dos romanos quanto dos próprios líderes judeus.

Mas, os Seus ensinamentos e a Sua própria Vida impregnaram o meu coração a ponto de eu jamais me desviar da fé e confiança nEle como o Messias e Redentor da humanidade marcada pelo distanciamento do seu Criador.

A sociedade em geral permanece a mesma, até hoje. Os preconceitos perduram, a discriminação é latente, a arrogância e a vaidade ainda refletem a essência do caráter do Homem na sociedade, mas o ensinamento de Jesus continua desafiando os estamentos sociais:

"Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos."

Por que não aprender com Jesus?

Vá até Ele!

Busque por Ele, dentro do seu próprio coração!

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Primavera de 2021

17/10/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 17/10/2021
Reeditado em 25/10/2021
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