TODO DIA É A MESMA COISA.

- Não existe nada impossível para esse povo Carlinhos, estou te dizendo, povo maluco é esse, dá nó em pingo d' água, eu nunca vi nada igual. Esse povo do quebra é dose.

  - Antigamente não existia coisas assim José, eu me lembro, não havia nada de tão... Como vou dizer... Tão... Absurdamente escancarado. O pessoal era mais discreto em suas pretensões, tal, pelo menos tentava ser discreto, agora... Fazem, desfazem e acusa sem pé nem cabeça, na cara dura.

  - Pois então, veja bem... Lá em casa a Marisa é esquerda, o Juninho é direita, pensa em um pé de briga que dá, um fala isso, outro aquilo, e você não sabe da maior, ficam os dois jogando a bola pra mim, "não é pai, diz pra mãe diz se não é pai", a Marisa faz a mesma coisa.

  - Complicado amigo... Mas aí, de que lado você está nesse conflito doméstico? Direita, esquerda? E aí? Em cima do muro?

  - Do lado do equilíbrio meu caro... Equilíbrio.

 - Equilíbrio? Explica isso.

  - Na minha opinião, não deveria existir lados degladiando-se, atacando-se de forma até, vexatória às vezes... É muito feio isso, que imagem ruim fica para os de fora.

  - Então não deveria ter lado nenhum na sua opinião?

  - Não é isso.

  - O que é então?

  - Não existiria equilíbrio se não tivesse lados opostos para serem, justamente levados a um ponto de igualdade e equilíbrio, discutir civilizadamente, ideias diferentes, para a partir daí, chegarem em um consenso onde todos sejam beneficiados.

  - Verdade, olhando bem, a balança está bem desigual, ninguém ganha com isso. Mas, isso que você está dizendo é quase uma utopia.

  - É... Sei disso. Entendo que, o povo sempre, sempre sai perdendo nessa, um quer gritar mais alto do que o outro, esse acusa aquele e tal... Entende. A coisa é muito mais complicada meu amigo, isso  não é recente, são pequenas coisas que foram acumulando até virar uma bola de neve. Não adianta jogar tudo nas costas do atual presidente, ele não é o culpado de toda essa baderna. Isso veio lá de trás, o problema é que a batata quente parou na mão dele, todo mundo vê, sabe e se faz de desentendido, e o pior é que não deixam os que querem de fato trabalhar fazer o correto

  - Sei não... Isso tudo que você diz é verdade, mas quem enxerga? Se você fala é ridicularizado, até agredido em alguns casos. Os caras levantam bandeiras pelas ruas de regimes  comunistas, sanguinários que matam inocentes... Pode isso?

  - Vamos esperar no que vai dar as próximas eleições, coisa boa eu sei que não é, isso eu garanto a você. Mas vamos esperar.

  - Nem vamos abordar o assunto de eleições, se não... Vamos sair só amanhã daqui.

  - É bem isso mesmo. Urna eletrônica, pode, não pode, é segura, não é... Isso, aquilo... Rapaz, é uma coisa de louco.

  - Quer saber... Já deu por hoje, tá escurecendo, a Praça tá enchendo desses malandros, segurança é pouca mesmo, melhor se mandar.

  - Vamos então, amanhã voltamos, assunto é que não vai faltar.

  - Isso não vai mesmo, pelo menos vamos tentar não falar de política novamente.

  - Faz três meses que estamos dizendo isso, e todo santo dia é a mesma coisa. É sentar aqui e descer a lenha nessa cambada.

  - Tem que fazer isso... Vamos embora, no caminho pago uma para você no bar do Zé.

( A.L )

Alberto de Andrade Lispector. ( A.L )
Enviado por Tiago Macedo Pena em 17/10/2021
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