7 - Sofrimento de Crianças

De uma coisa eu sei: o sofrimento de uma criança comove os corações. É tinta derramada sobre o carpete, espalha pelo mundo a compaixão, transforma definitivamente o que toca.

Atualmente, muito exploramos este tema. Incontáveis são os livros, filmes e músicas sobre o sofrimento infantil. Mais do que somente no espaço, estes produtos agem no tempo: imortalizados pelo estado da arte a que alcançam.

Assim, muitas vezes o sofrimento de uma só criança transfigura uma legião de adultos.

Há muitas interpretações para esta dor. Você mesmo já deve ter alguma em mente agora. As principais interpretações são religiosas ou místicas. Entendo isso. É muito difícil enxergar sentido em tudo que acontece no mundo, principalmente na dor de uma inocente criança.

Gosto de pensar que não precisamos buscar este sentido. Precisamos é de executar atos que deem sentido à nossa existência. Imagine o estado de espírito de uma pessoa que dedica uma parte de seu tempo ao sofrimento infantil, sem esperar recompensas.

Excursando-me um pouco, posso acrescentar aqui todo tipo de trabalho, profissional ou voluntário. Muitas pessoas se veem preenchidas pelo mais caloroso sentimento de plenitude ao poder ajudar o próximo.

Às vezes somos egoístas. Não estamos preparados para isso. Voltando de uma visita ao médico, o casal, abatido, fica em silêncio. Seu filho nascerá com a síndrome de Down. Isso atrapalha tudo, os planos de perfeição foram manchados, o futuro da família está comprometido. O que vamos fazer?

Passados alguns anos, o casal está diferente! Nunca viram antes a pureza e simplicidade de amor assim, concretizadas em sua frente, em forma de pessoa.

Muito mais difícil é receber a pancada de uma anomalia severa que, possivelmente, levará a criança à morte prematura. Para estes casos, creio não haver palavras que se encaixem bem. Palavras são como cascalho jogado na areia de uma ampulheta. Enquanto a areia do tempo desce seu caminho em direção ao futuro, as palavras se frustram e ficam no passado.

Não conheço quem não se comova com a dor e morte de uma criança. Todos ficam marcados, sequelados ou cicatrizados. E há mudança. Revolta e raiva em alguns, serenidade e compaixão em outros. Com o passar do tempo, a mudança continua.

Aqueles que enfiam a mão no fardo da dor e tiram de lá o rochedo de seu sofrimento podem superar. Carregarão este rochedo, não para se lastimar pelo caminho, mas para muda-lo. Ao longo da trajetória, vão cuidando, esculpindo, tratando a rocha bruta. Passado mais tempo, se colocarão a pintar e a dar o acabamento. Assim transformada, a rocha pesada e intratável torna-se adorno da alma aliviada. A criança se foi. Mas a marca que ela deixou está aqui, perfuma, resplandece os recantos da alma curada.