África
Era tudo simples. A casa tinha o essencial e, rigorosamente, nada mais que isso. Havia um espaço morto que nunca se usava. Era chamado sala de visitas, um lugar onde os visitantes se acanhavam, de pé, aguardando a conversa que haveria com a dona da casa, a filha, ou um dos rapazes, sem camisa e descalço, que estranharia o silêncio desusado no lar e vinha, curioso, farejar novidades. Lá fora ardia o sol, exaltavam-se as cigarras e o solo queimava a sola dos pés nus. Havia quem se banhasse numa das selhas da barrela perante a indiferença da lavadeira que fazia o seu trabalho devagar, suando, aspirando o cigarro com a parte acesa guardada na boca. O filho às costas, a melopeia a soar entre a boca e o nariz, a conformação. Ao fim do dia, arrumados na bacia de esmalte os pertences, saia sem se despedir. Era tudo previsível, moroso, improvisado. A vida gastava-se como se fosse eterna.