O beijo
que nunca te dei
1. A cidade de Surubim, também conhecida como a capital da vaquejada, no agreste pernambucano, distante 98 km do Recife, é o seu torrão natal.
Na pia batismal o surubinense recebeu o nome de Lourenço; no Cartório, Lourenço da Fonseca Barbosa.
2. Inda criança, ganhou o estranho apodo de Capiba. Músico famoso, carregando esse estranho apelido, tornou-se conhecido e aplaudido no seu Pernambuco e no Brasil.
Um amigo perguntou-me: por que Capiba? Respondi-lhe: herdou do avô e que Capiba tem um estranho significado: "jumento teimoso". Coisas do meu surpreendente e querido sertão nordestino.
3. Depois de morar uma temporada em João Pessoa, Capiba mudou-se para o Recife. No Recife, formou-se em Direito. Mas do que ele gostava mesmo era de música. Por isso, não hesitou em trocar o Vade Mecum pelo piano. Segundo seus biógrafos, aos oito anos de idade ele se revelou amante das claves, dos bemóis e dos sustenidos.
4. Em pouco tempo, suas bonitas composições, os frevos principalmente, ganharam as ruas e os salões de Olinda e Recife. E não demoraram em tomar conta do Brasil.
Mas, além de frevos, Capiba compôs inúmeras canções; tão bonitas que encantaram cantores como Chico Alves e Silvio Caldas. Capiba morreu no dia 31 de dezembro de 1997, aos 80 anos, deixando mais de 200 canções gravadas.
5. Entre suas canções, uma encantou-me, logo que a escutei pela primeira vez; eu ainda um pirralha, mas de refinado gosto musical e excelentes oiças.
"Maria Betânia" é a canção.
Gravada no ano de 1945 por Nelson Gonçalves. Eu tinha dez anos, mas já estava contaminado por um exagerado romantismo. E continuo romântico, sempre que sou chamado a escrever sobre essa preciosa valsa do Capiba.
6. Betânia! Esse nome me traz doces recordações. Um dia, meu pai resolveu dar um presente à minha mãe e aos seus oito filhos. Deu-nos um terreno com oitenta pés de caju.
O terreno ficava num dos lugares mais quentes do Ceará. Os juazeiros (xerófilos) e os frondosos cajueiros davam acolhedoras sombras, espantando o calor. E o terreno virava um paraíso.
7. Minha mãe, muito religiosa, logo lembrou-se de dar um nome ao terreno. Chamou-o de Betânia. Justificou, dizendo que Betânia, doze vezes citada na Bíblia, fora uma aldeia da Judeia visitada várias vezes por Jesus.
Fomos felizes na Betânia. Por isso, continuo acreditando que o Mestre aprovou a ideia de minha mãe e deu uma passadinha no nosso terreno, abençoando-o.
8. O serviço de auto-falante de minha cidade, no coração do Ceará, divulgava "mensagens sonoras", na sua maioria postadas por mancebos apaixonados e mancebas não menos...
Eu, um deles, deixava de comprar merenda no colégio para acarinhar meus amores, com uma "página musical" na única "emissora" da cidade.
9. E não foram poucas as vezes que matei a saudade de alguém pedindo aos locutores que pusessem pra tocar músicas de Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, e até do inigualável Vicente Celestino, "Patativa", "Coração materno" e "O Ébrio".
10, Claro que Nelson Gonçalves não podia faltar, com seu vozeirão, cantando "Maria Betânia". Oh! Como tive Marias Betânias na minha vida de inconfundível apaixonado.
A uma delas mandei este recado num cartãozinho róseo, sua cor preferida:
"Maria Betânia/ Tu sentes saudades de tudo bem sei/ Porém também sinto/ Saudades do beijo que nunca te dei".
Ela leu... e lamentamos juntos...
que nunca te dei
1. A cidade de Surubim, também conhecida como a capital da vaquejada, no agreste pernambucano, distante 98 km do Recife, é o seu torrão natal.
Na pia batismal o surubinense recebeu o nome de Lourenço; no Cartório, Lourenço da Fonseca Barbosa.
2. Inda criança, ganhou o estranho apodo de Capiba. Músico famoso, carregando esse estranho apelido, tornou-se conhecido e aplaudido no seu Pernambuco e no Brasil.
Um amigo perguntou-me: por que Capiba? Respondi-lhe: herdou do avô e que Capiba tem um estranho significado: "jumento teimoso". Coisas do meu surpreendente e querido sertão nordestino.
3. Depois de morar uma temporada em João Pessoa, Capiba mudou-se para o Recife. No Recife, formou-se em Direito. Mas do que ele gostava mesmo era de música. Por isso, não hesitou em trocar o Vade Mecum pelo piano. Segundo seus biógrafos, aos oito anos de idade ele se revelou amante das claves, dos bemóis e dos sustenidos.
4. Em pouco tempo, suas bonitas composições, os frevos principalmente, ganharam as ruas e os salões de Olinda e Recife. E não demoraram em tomar conta do Brasil.
Mas, além de frevos, Capiba compôs inúmeras canções; tão bonitas que encantaram cantores como Chico Alves e Silvio Caldas. Capiba morreu no dia 31 de dezembro de 1997, aos 80 anos, deixando mais de 200 canções gravadas.
5. Entre suas canções, uma encantou-me, logo que a escutei pela primeira vez; eu ainda um pirralha, mas de refinado gosto musical e excelentes oiças.
"Maria Betânia" é a canção.
Gravada no ano de 1945 por Nelson Gonçalves. Eu tinha dez anos, mas já estava contaminado por um exagerado romantismo. E continuo romântico, sempre que sou chamado a escrever sobre essa preciosa valsa do Capiba.
6. Betânia! Esse nome me traz doces recordações. Um dia, meu pai resolveu dar um presente à minha mãe e aos seus oito filhos. Deu-nos um terreno com oitenta pés de caju.
O terreno ficava num dos lugares mais quentes do Ceará. Os juazeiros (xerófilos) e os frondosos cajueiros davam acolhedoras sombras, espantando o calor. E o terreno virava um paraíso.
7. Minha mãe, muito religiosa, logo lembrou-se de dar um nome ao terreno. Chamou-o de Betânia. Justificou, dizendo que Betânia, doze vezes citada na Bíblia, fora uma aldeia da Judeia visitada várias vezes por Jesus.
Fomos felizes na Betânia. Por isso, continuo acreditando que o Mestre aprovou a ideia de minha mãe e deu uma passadinha no nosso terreno, abençoando-o.
8. O serviço de auto-falante de minha cidade, no coração do Ceará, divulgava "mensagens sonoras", na sua maioria postadas por mancebos apaixonados e mancebas não menos...
Eu, um deles, deixava de comprar merenda no colégio para acarinhar meus amores, com uma "página musical" na única "emissora" da cidade.
9. E não foram poucas as vezes que matei a saudade de alguém pedindo aos locutores que pusessem pra tocar músicas de Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, e até do inigualável Vicente Celestino, "Patativa", "Coração materno" e "O Ébrio".
10, Claro que Nelson Gonçalves não podia faltar, com seu vozeirão, cantando "Maria Betânia". Oh! Como tive Marias Betânias na minha vida de inconfundível apaixonado.
A uma delas mandei este recado num cartãozinho róseo, sua cor preferida:
"Maria Betânia/ Tu sentes saudades de tudo bem sei/ Porém também sinto/ Saudades do beijo que nunca te dei".
Ela leu... e lamentamos juntos...