Maquiagem do pânico - BVIW
A última ceia com certeza não era, estava mais para a hora da merenda, pão e água. Leonardo da Vinci não tinha uma representação naquela parede, e se tivesse, a moça não estaria sorrindo. Uma dieta alimentar forçada, mas o cesto de vime e a jarra de cobre estavam sobrepostos nos móveis de madeira de lei. Ninguém podia reclamar da composição do ambiente, da indumentária e da luminosidade que tornava aquele lugar único. As irmãs Genoveva e Antonina fizeram sua aparição sorrindo e agradecendo pela ingestão das poucas calorias, as outras, imaginando um banquete dos deuses. Não dava para beber a água e sentir o gosto de suco de groselha. A cena não era um cartão postal da alta gastronomia, mas Cecília fez a gentileza de sorrir para a fotografia. E o silêncio foi quebrando ao som da voz angelical de irmã Donatella, que mesmo contrariada, ficou com a missão de recitar o hinário da gula. Padre Huguinho parecia muito satisfeito, também vestido com a calça púrpura do estilista Valentin, queria mais o quê? A batina roxa? Alana, the lady in black, pensou em tudo isso enquanto segurava o copo, que não era de extrato de tomate, e viu o quanto fazia falta uma aglomeração. Uma explosão de sentimentos e pequenos detalhes ocultos na maquiagem do pânico.