Criança e felicidade.

O dia das crianças é motivo de reflexão. Em vários momentos do dia, quando penso na minha filha, na criança que fui, que não posso mais ser, mas especialmente quando leio manchetes sobre os sofrimentos a que muitas crianças são submetidas pelos humanos adultos no mundo inteiro. Um fato e situação mais forte, no momento atual, é a fome e fome extrema de crianças. Muitas, morrem por não ter alimentos básicos.

A fome de crianças, e adultos, sempre foi um dos pecados mais absurdos dos humanos que se dizem humanos. Fácil de solucionar no mundo todo. Basta, todos, ser o que dizem ser: humanos, de fato.

Certamente se o mundo fosse determinado pelo mundo encantado das crianças ele seria muito diferente. Colorido e cheio de brinquedos. O trabalho mais importante seria brincar. A escola não seria como é. Aprender seria olhar, observar e se assombrar com a natureza, plantas, animais... menos humanos grandes. Professores não existiriam. Eles obrigam as crianças a ser adultos. A única regra e norma seria ser feliz.

A felicidade tem uma relação com a espontaneidade e a gratuidade. Ser feliz não tem preço, não pode ser comprada, porque é gratuita. Gratuita mesmo, não como aquelas promoções que dizem ‘pague tanto e leve outra gratis’, que são todas mentirosas, descaradamente. No mundo humano adulto, NADA é de graça. Nem o bom dia que damos a quem nos parece amigo. Ele tem um interesse oculto na vontade de ter, pelo menos, o retorno do mesmo bom dia.

Assim, felicidade e satisfação se confundem. As sensações podem ser muito semelhantes. Perceber a diferença nem sempre é fácil... nos adultos. Porque eles fingem. Ou aprenderam simular. Aliás, quem não finge bem ou não deseja sempre ser um personagem, não se dá muito bem na sociedade... das aparências.

Na criança, é fácil perceber quando ela está feliz e quando ela está satisfeita. Ela é feliz quando está de bem consigo mesma e com seu mundo imaginário. A felicidade que se mostra é autêntica. Quando ela está em equilíbrio com a sua afetividade, seja nas relações com seus pais e/ou cuidadores, também há possibilidade de ser feliz. Mais rara, mas ainda há famílias que vivem em torno dos filhos. Raros, cada vez mais raros. Quando ela começa ter contato com o mundo do consumo, imprescindível para a ‘felicidade’ dos adultos, ela desliga, paulatinamente das chances de ser feliz.

Ser feliz é grátis. Estar satisfeito tem preço ou motivo. A felicidade é interior. A satisfação precisa de algo que vem de fora. Pode ser pago, comprado, inventado. Felicidade não pode ser criada. É natural. Só as crianças a possuem, enquanto ainda no mundo natural... de uma criança. Depois de entrar no mundo adulto, tudo é ilusão. A felicidade também.

Professor PP, 121021