Feliz dia das crianças
Sonho que vejo uma garotinha que aparenta ter uns 8 anos, com cabelos cacheados, correndo na rua. Ela parece com medo. Corro atrás dela e vejo-a entrando num pátio de uma casa que está fechada. Ela senta no pátio e começa a chorar. Dentro do pátio, há uma espécie de banco e debaixo dele, tem diversos livros infantis. Ela pega um de capa rosa e chorando, abre em uma página de modo intencional. De repente, ouço ela cantando entre soluços:
"Eu chovo, tu choves, chovemos,
choveis
É tromba de água chovendo em
vocês!
Chuveiro chatinho, metido a
patrão,
Vai ser esfregado com água e
sabão!"
Ela sorri entre as lágrimas e abraça o livro. O livro é de Sílvia Orthof. Para ela, é uma das poucas adultas em que se pode confiar, junto com a professora que lhe incutira o amor pela leitura, o tio que lhe ensinara a ler e todos os escritores que a mantiveram querendo viver. Tenho certeza que se me visse hoje, ela diria que se orgulha de quem me tornei e pediria que eu agradecesse a todos os que se dedicam a escrever para as crianças. Deixo aqui minha admiração e meu muito obrigada a todos os que me fizeram companhia quando eu não tinha a quem recorrer. A menina ainda está em mim, de vez em quando a ouço chorar e quando isso acontece, leio um livro e ela parece dormir.
Feliz dia das crianças para a menina que fui. Aquela que se perdia entre livros e imaginação porque a realidade era assustadora demais. Que escolheu como seu mecanismo de defesa a timidez, a introversão, a leitura e agora a escrita.