PÃO COM BANHA
Nada pra mim era mais gostoso que um café na casa de tia Nena.
Ela era de uma doçura imensa e, meus primos - tal como eu - não escondiam também a satisfação sempre renovada de sentar-se àquela mesa onde rolava um café coado com amor e uma ternura imensa eclodindo nas palavras da figura adorável que não se importava em gastar seu tempo indagando e demonstrando interesse com o nosso dia a dia.
O café por lá era sempre farto.Leite e manteiga provinham de suas vaquinhas.Os bolos , costumeiramente decorados com muito esmero - lembro das tirinhas de goiabada e marmelada, em cores que se alternavam - deitadas geometricamente sobre o açúcar de confeiteiro que os encobriam, biscoitos e o mais delicioso dos pães caseiros.
Mas, o que eu mais achava interessante, era um pequeno balde esmaltado que tia Nena colocava sobre a mesa com banha de porco, temperada, para “passar “na fatia de pão.
Mais que o sabor inesquecível do produto, a leitoa charmosa que decorava o dito baldinho era o que me prendia a atenção.
Com um laçarote ao pescoço, postada por traz de uma cerquinha entre cogumelos e flores ela , a leitoa , aparentava estar sempre bem humorada.
Tinha um olhar cativante, ares de felicidade e a expressão de um sorriso perene naquela sua carinha suína.
Pequenos detalhes que parecem fúteis mas permanecem para sempre.
A gente cresce, amadurece, envelhece...E tantos “éçes”,mas as mesas e as ternuras antigas são lembranças vivas das quais jamais se esquece.
Hoje, neste café da tarde, besuntei meu pão à banha de porco temperada.
Eu mesmo a preparei a partir de toucinho derretido e temperado com sal, alho e louro.
Por um instante, revisitei aquela mesa do tempo e lancei este meu sorriso de velho ao riso perene da gorducha do baldinho.
Era como se por uns breves instantes, estivesse na cozinha de tia Nena.