É verdade?
- Pai, é verdade isso?
- Não, filho, não é. Mas bem que podia ser.
- E bife a cavalo, por que tem esse nome?
- Porque o ovo sobe no bife e sai galopando pra boca da gente. Mentira, não é isso não. Na verdade, o que aconteceu foi um acidente. Uma velha senhora, que morava em um sítio, pegou ovos em um galinheiro e os colocou em um cesto. Voltava tranquila para casa. Enquanto isso, o marido dela assava carne em um buraco, o que é muito comum em sítios e fazendas. Tudo ia bem. No entanto, uma abelha ferroou um cavalo, que relinchou de dor. A velha senhora se assustou e derrubou os ovos sobre o churrasco. Os ovos se quebraram e, com o calor do fogo, fritaram-se no mesmo instante. Ficaram lá, fritos sobre a carne. O casal experimentou e gostou. Deram o nome a essa comida de bife a cavalo, porque o cavalo foi o grande responsável pelo acidente.
- Foi assim mesmo, pai? É verdade?
- Na verdade, na verdade, não é bem assim. Mas bem que podia ser.
- E o “tchau”, por que a gente faz assim com a mão?
- É que há muito, muito tempo, um homem foi embora em um barco a vela. A vela do barco balançava com o vento. Uma criança, à margem do rio, abriu a mãozinha e imitou o movimento da vela, que ia pra lá e pra cá. Os adultos acharam interessante e imitaram a criança. O homem que estava no barco imitou todo mundo. E todos movimentaram as mãos como a vela do barco. Assim se despediram. E até hoje nós damos tchau assim.
- Isso é verdade ou é também invenção sua? É verdade, pai?
- Não muito. Mas bem que podia ser.
- Sabia. Ah, pai, e por que a orelha da gente tem essa pontinha aqui ó?
- Filho, essa pontinha, que parece que não serve pra nada, tem um nome esquisito. Chama-se “trago”. É que Deus, quando criou o ser humano, já sabia como seríamos no futuro. Afinal, Deus sabe tudo. Sabia que chegaria um tempo que o homem criaria o fone de ouvidos. Então, ele adiantou a isso e nos deixou com a anatomia perfeita, com a orelha pronta pra receber os fones. E o encaixe é perfeito.
- Deus sabia que a gente iria usar fone de ouvidos?
- Sim. Acho que sim.
- Essa história é verdade?
- Bem, verdade, verdade não é. Mas bem que podia ser.
- Já imaginava. Pai, outra perguntinha. Por que os gatos se esfregam na perna da gente?
- Ah, filho, você pode achar que isso seja por carinho, né? Não é não. Isso é um instinto dos gatos, um costume que vem lá de longe, dos primeiros gatinhos. Antes de inventar o fogo, os homens já domesticavam os animais e os gatos estavam entre esses animais. Como não havia fogo, os homens sentiam muito frio no inverno. Os gatos ficavam com pena e tentavam aquecer os homens se esfregando em suas pernas. E naqueles tempos, os gatos eram muito mais peludos. Assim, aqueciam mesmo.
- Pai, você está inventando de novo, né? É verdade isso?
- Olha, filho, pra ser sincero, não. Mas bem que podia ser.
- Ah, pai, você nunca fala a verdade.
- Nunca, nunca também não.
- Pai, ser gente grande é bom?
O homem olhou as horas no celular. Já estava tarde. Falou para o filho dormir e lhe deu um beijo.
- Boa noite, filho.
- Boa noite, pai. Mas o senhor não respondeu se ser gente grande é bom.
- Bem que podia ser. E seria se a gente grande crescesse muito, muito, muito mais pra ficar do tamanho de uma criança.
E disse, assim, a primeira verdade.