ALÔ!? POSSO FALAR COM DEUS?

ALÔ!? POSSO FALAR COM DEUS?

Não sei em que tempo comecei a interrogar Deus, mas foi cedo. Percebi que os adultos O temiam e costumavam citá-lO como arma a seu dispor. Era comum os adultos ameaçarem:

- Se você não for boazinha...Deus vai castigar!

E o que era ser "boazinha"?

- Era não "responder aos mais velhos"? Guardar os brinquedos no lugar? Não mentir?

Como não mentir se todos diziam para eu não me "embrenhar no mato porque lá era cheio de bichos"... Mas se era, exatamente por isso, que eu me "embrenhava"...

Bem, comecei a querer saber afinal, quem era esse tal de "Deus" que castigava quem respondesse aos mais velhos ou desobedecia às ordens "chatas" ou mentia...

Nossa! Eu mentia! E como! Não tinha jeito! Minha mãe até relevava, às vezes, porém eu adorava subir nas árvores, jogar bola com os meninos, brincar de pique, pular corda, apostar corrida, brincar de "bandido e mocinho", "pular carniça", seguir trilha de rios... Fazer cerol para pipa! Não eram brincadeiras apropriadas para uma menininha! Aí, eu mentia para explicar a roupa manchada, o vestido rasgado, o arranhão no braço, o corte no calcanhar, o roxo no joelho,etc.

Para desenvolver minha concentração, quer dizer, me fazer "sossegar o facho", uma expressão que guarda o significado de "ficar um tempo quieta", minha mãe me ensinou a ler.Aconteceu quando ela descobriu estar gravemente doente.

Agora, ler e escrever para mim eram as chaves da descoberta de um novo universo. E eu gostava...O primeiro livro que ganhei o inesquecível "PEDRITO NO REINO DA FANTASIA" tinha um boneco colorido e lindo, de papelão, que movia braços e pernas e trocava a roupa ao se virar cada página, tornando o livro um brinquedo encantado.Guardei-o durante anos até que desapareceu, o que me deixa triste até hoje. Presente de minha querida mãe!

Minha rua era cheia de crianças. Não era longa e a proximidade das residências tornaram a vizinhança uma grande família! As mães faziam petiscos e trocavam receitas e mudas de plantas. Conversavam muito, levavam os filhos à escola.As crianças eram irmanadas num tempo sem televisão, em que o rádio atraía ouvintes pelas novelas e programas de auditório de César de Alencar, Manoel Barcelos e humorísticos como os "caipiras" comandados por "Jararaca e Ratinho" e mais tarde o "Balança Mas Não Cai"! Ari Barroso comandava o seu "Programa de Calouros"! Para as crianças e adolescentes "As Aventuras de Tarzã"!Ah! Havia um programa muito sério comandado por homem "grave" - Renato Murce!

Meu avô não perdia a "sagrada Hora do Brasil" que "dava conta aos brasileiros dos caminhos que o governo tomava" e minha avó era assídua ouvinte do programa religioso "Ave Maria"de Júlio Louzada!

Bem, eu era fiel ouvinte das "Aventuras de Tarzã",meu herói incontestável e adorado também no cinema com sua vida livre entre animais, em meio a densa floresta africana. Vê-lo mergulhar, nadar, saltar entre as árvores... Afagar leões! Montar em elefantes! Conversar com a macaca Chita... Tornava-me parte integrante da aventura!Sim, porque criança, não brinca de "faz de conta", é tudo"à vera". Entendeu?

- Não?

Quero dizer que para mim a "fantasia" era "de verdade"!Nada era de "mentirinha"! Tarzan era meu herói no rádio e no cinema e na vida real!Falar e ser entendido pelos animais que ele protegia com a própria vida...Passou a ser, por escolha, o meu destino! Até hoje tenho"diálogos" inacreditáveis! Abraço árvores e sinto a energia que as florestas emanam.Pássaros, insetos e feras guardam rara sintonia pra quem lhes empresta a atenção do momento que se faz sagrado.Não há mistério, apenas um sentimento que irmana e, às vezes, pede perdão!

Súbito, minha mãe descobriu estar muito doente.Preocupada e para me manter mais próxima decidiu me ensinar a ler e escrever.Agora, aos seis anos, um novo mundo se descortinava. Era bom.Era muito bom. Ríamos das palavras novas que eu aprendia. De repente, ela começou a ler um livro grosso e pesado - um tal de "dicionário"!Perguntei a razão. Respondeu-me com um sorriso suave:

- Mamãe não vai ter tempo de conhecer muita coisa e aqui eu vou explorando um mundo novo...

Eu também quis um dicionário e meu pai comprou. Era um livro de segredos, disse ele, aguçando minha curiosidade.

Agora, eu deitava ao lado de mamãe e ríamos muito das palavras novas e estranhas que íamos descobrindo...

Por um tempo, abandonei minhas aventuras externas...Sentia que algo, que não sabia explicar, estava para ocorrer...

E Deus? É mesmo. Já ía me esquecendo...

Aliás, é muito comum a gente se esquecer de Deus! ALÔ!? POSSO FALAR COM DEUS?

Não sei em que tempo comecei a interrogar Deus, mas foi cedo. Percebi que os adultos O temiam e costumavam citá-lO como arma a seu dispor. Era comum os adultos ameaçarem:

- Se você não for boazinha...Deus vai castigar!

E o que era ser "boazinha"?

- Era não "responder aos mais velhos"? Guardar os brinquedos no lugar? Não mentir?

Como não mentir se todos diziam para eu não me "embrenhar no mato porque lá era cheio de bichos"... Mas se era, exatamente por isso, que eu me "embrenhava"...

Bem, comecei a querer saber afinal, quem era esse tal de "Deus" que castigava quem respondesse aos mais velhos ou desobedecia às ordens "chatas" ou mentia...

Nossa! Eu mentia! E como! Não tinha jeito! Minha mãe até relevava, às vezes, porém eu adorava subir nas árvores, jogar bola com os meninos, brincar de pique, pular corda, apostar corrida, brincar de "bandido e mocinho", "pular carniça", seguir trilha de rios... Fazer cerol para pipa! Não eram brincadeiras apropriadas para uma menininha! Aí, eu mentia para explicar a roupa manchada, o vestido rasgado, o arranhão no braço, o corte no calcanhar, o roxo no joelho,etc.

Para desenvolver minha concentração, quer dizer, me fazer "sossegar o facho", uma expressão que guarda o significado de "ficar um tempo quieta", minha mãe me ensinou a ler.Aconteceu quando ela descobriu estar gravemente doente.

Agora, ler e escrever para mim eram as chaves da descoberta de um novo universo. E eu gostava...O primeiro livro que ganhei o inesquecível "PEDRITO NO REINO DA FANTASIA" tinha um boneco colorido e lindo, de papelão, que movia braços e pernas e trocava a roupa ao se virar cada página, tornando o livro um brinquedo encantado.Guardei-o durante anos até que desapareceu, o que me deixa triste até hoje. Presente de minha querida mãe!

Minha rua era cheia de crianças. Não era longa e a proximidade das residências tornaram a vizinhança uma grande família! As mães faziam petiscos e trocavam receitas e mudas de plantas. Conversavam muito, levavam os filhos à escola.As crianças eram irmanadas num tempo sem televisão, em que o rádio atraía ouvintes pelas novelas e programas de auditório de César de Alencar, Manoel Barcelos e humorísticos como os "caipiras" comandados por "Jararaca e Ratinho" e mais tarde o "Balança Mas Não Cai"! Ari Barroso comandava o seu "Programa de Calouros"! Para as crianças e adolescentes "As Aventuras de Tarzã"!Ah! Havia um programa muito sério comandado por homem "grave" - Renato Murce!

Meu avô não perdia a "sagrada Hora do Brasil" que "dava conta aos brasileiros dos caminhos que o governo tomava" e minha avó era assídua ouvinte do programa religioso "Ave Maria"de Júlio Louzada!

Bem, eu era fiel ouvinte das "Aventuras de Tarzã",meu herói incontestável e adorado também no cinema com sua vida livre entre animais, em meio a densa floresta africana. Vê-lo mergulhar, nadar, saltar entre as árvores... Afagar leões! Montar em elefantes! Conversar com a macaca Chita... Tornava-me parte integrante da aventura!Sim, porque criança, não brinca de "faz de conta", é tudo"à vera". Entendeu?

- Não?

Quero dizer que para mim a "fantasia" era "de verdade"!Nada era de "mentirinha"! Tarzan era meu herói no rádio e no cinema e na vida real!Falar e ser entendido pelos animais que ele protegia com a própria vida...Passou a ser, por escolha, o meu destino! Até hoje tenho"diálogos" inacreditáveis! Abraço árvores e sinto a energia que as florestas emanam.Pássaros, insetos e feras guardam rara sintonia pra quem lhes empresta a atenção do momento que se faz sagrado.Não há mistério, apenas um sentimento que irmana e, às vezes, pede perdão!

Súbito, minha mãe descobriu estar muito doente.Preocupada e para me manter mais próxima decidiu me ensinar a ler e escrever.Agora, aos seis anos, um novo mundo se descortinava. Era bom.Era muito bom. Ríamos das palavras novas que eu aprendia. De repente, ela começou a ler um livro grosso e pesado - um tal de "dicionário"!Perguntei a razão. Respondeu-me com um sorriso suave:

- Mamãe não vai ter tempo de conhecer muita coisa e aqui eu vou explorando um mundo novo...

Eu também quis um dicionário e meu pai comprou. Era um livro de segredos, disse ele, aguçando minha curiosidade.

Agora, eu deitava ao lado de mamãe e ríamos muito das palavras novas e estranhas que íamos descobrindo...

Por um tempo, abandonei minhas aventuras externas...Sentia que algo, que não sabia explicar, estava para ocorrer...

E Deus? É mesmo. Já ía me esquecendo...

Aliás, é muito comum a gente se esquecer de Deus!

dacosta
Enviado por dacosta em 09/10/2021
Código do texto: T7360099
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