MAIORIDADE DA ALMA. O SOL DA ORIGEM.

Ninguém pode caminhar sem fé. Desesperador, espectral e aterrorizante não acreditar em algo. Quem não acredita em algo ou alguma coisa que nos enriqueça interiormente, não acredita em si mesmo. É estar morto ainda vivendo. Por ela, pela fé, aceitamos nossa materialidade, que não sobrevive sem pensar; alma. Ao menos, também, uma crença de nos sabermos pensantes. Pensamos, não somos só matéria, daí decorre a crença na imaterialidade.

Quem se ausenta da fé no infinito, se desespera. Se somos finitos, houve nosso princípio no infinito, para o qual o finito se volta. É uma apreensão de posse de um conhecimento anão, diante do gigantismo que se apresenta para esse esclarecimento inteligencial, que pensa.

Não há ser e não ser, começo sem fim, infinito sem finito. Infinito e eternidade, uma coisa só. Há um enigma no universo inacessível, mas sabemos que está lá, a nos desafiar. Desígnio sugerido vedado à inteligência, ao pensamento.

Nascemos; como e por quê? Mesmo o homem mais rude questiona, a alma vaga por essa ideia.

Adolfo Levi, professor da Universidade de Pávia, questiona:

“A minha dúvida é tormentosa e dilacerante..sem resposta em face do drama da vida e da morte...da dor, do mal..das lutas e sofrimentos dos seres vivos, se têm uma finalidade..uma significação e valor.”. Arquivio di Filosofia. Nov 1931, pgs 34.

Uma questão de ordem racional. O primeiro problema da vida da inteligência. Por mais humilde que seja seu posto na hierarquia da inteligência, o homem pergunta a si mesmo.

Ter fé em algo, em alguma coisa, é inarredável. Não é possível deixar de crer em algo, mesmo em nós mesmos, ato de liberdade absoluta, impositiva e necessária, pretensamente dominante, liberta, independente de qualquer laço com nada, sem cadeias, ainda que a postura seja soberba falta de humildade. Mas não há humildade em quem não crê, só cegueira quase animal.

Lá está em nossa caminhada a crença em algo, soberana, maior ou menor, segundo valores existentes para mediar vontades e existências.

É impositiva a matéria que pensa, nos cerca, carrega o imaterial, o pensar, algo maior, infinito, vestido de todas as formas e desenhos, mas presente, embora em sinuosas e variadas “verdades”, formando universos coletivos e individuais. Neles está a fé em algo, o credo, até mesmo da pessoalidade orgulhosa e pensada intangível.

Crença na certeza da verdade segura é heresia, apóstata, mas crença existente, sem erros ou desvios de existir, como matéria e alma, permeado de dúvidas construtivas, alento de chegar ao sol da verdade após o suplicio da dúvida. Isto deriva da fé,evidência incontestável, por ela já pertencemos à origem, como forma de outras formas que vieram e serão futuro, ainda que pó. Isto não impede de sentir outras formas a que se chega pelo mundo sensitivo.

Em sessão de acupuntura, mergulhado em meditação profunda, outros espaços chegam com experiência incomum, real. Já sem os pais, faz bastante tempo, os viu jovens em meditação “satori”, com o filho que perderam e lhes trouxe muita dor, imensurável, o primeiro filho, a brincarem com o mesmo, levantado pelo pai ainda jovem em seus braços, assistida a cena pela mãe em sorrisos. Lindos sorrisos como tinha. Não sonhava nem dormia, nem estava ligado a essas imagens que não frequenta nem em retratos.

Uma visita da eternidade a que a matéria não pertence, etérea, mas a fé, mesmo sem buscar ortodoxamente alcança, e mostra, do nada que vem nos visitar, a eternidade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 05/10/2021
Reeditado em 05/10/2021
Código do texto: T7357108
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