Um saci na esquina
Logo cedo e esse saci endiabrado, lá tá ele na esquina assoviando como uma chaleira de água fervente.
Toda a vez que certo menino vem me visitar ele traz consigo este saci. Mas também pudera né! Não há nada mais puro que a inocência de uma criança.
E por aqui, nessa cidade fria e calculista, por vezes ficar encaixotado entre tanto concreto armado faz a alma querer fugir pra longe. O porto seguro é sempre as alamedas decoradas com muitos pés de frutas e bambuzal em algum lugar no passado.
Oras, está ai o enigma, bambuzal, todo especialista em caçar saci sabe que eles se escondem por entre os bambus.
Lá to eu neste começo de mais um dia agitado, nessa cidade de pedra, tirando o carro da garagem. Caracas!! Duas toneladas de ferro numa única carroça. É ridículo arrastar tanto peso para um deslocamento de não mais que poucas léguas, que lógica sem lógica é essa?
Pois bem, o saci, está longe de ser lenda, aquele menino sabe bem disso.
Farol verde, na primeira esquina que virei, para ganhar a avenida principal, uma fila de caixotes de ferro se espalham até dar náuseas e logo ali, na esquina mesmo, o saci com cachimbo na mão sorri pra mim e solta aquele assovio infinito.
Certamente esta tirando sarro da minha cara, como quem dissesse: O mundo irreal aqui é o seu.
Sim, a paisagem tétrica e ácida trouxe de algum lugar no passado aquele menino de pés no chão e com ele o saci, um efúgio. Entre as andanças pelas alamedas com cheiro de mato, a corrida da vaca brava, o pescar lambari no Paraíba e o comer frutas do pé, caçar saci era o ápice do dia.
Ah! Essas alamedas perfumadas (...) um oásis em meio a tanta falta de sentido.
Vambora pegar o saci que ele está na esquina.
Por hora, bom dia.