O Amor Inclusivo de Jesus!

Era um dia ensolarado!

Mais um daqueles dias quentes, abafados, preguiçosos e de muita poeira no ar. Os ventos do deserto se encarregavam de lançar bastante areia sobre os trabalhadores braçais.

Eu percebia a agitação do povo, mas não conseguia ouvir-lhes a gritaria motivada por algo que estava para acontecer. Adultos e crianças se agitavam de um lado e de outro enquanto as mulheres falavam e gesticulavam umas às outras, muitas delas com seus filhos menores nos braços.

Aparentemente este seria um grande acontecimento em nossa aldeia. Eu, porém, não conseguia ouvir nada por causa da minha deficiência auditiva.

Desde criança, por alguma razão que eu desconhecia, eu não conseguia ouvir nada. Por consequência, eu também não conseguia falar. Apenas balbuciava alguns sons desconexos e ininteligíveis até mesmo para mim. Sofria muito com a minha deficiência, pois as pessoas me julgavam idiota, no sentido da palavra, incapaz de desenvolver qualquer habilidade intelectual.

Você consegue avaliar o quanto eu me sentia discriminado pela minha própria comunidade? Eu tinha habilidade com as mãos e bem que poderia ser um habilidoso carpinteiro, mas a sociedade desprezava todas as minhas iniciativas pelo simples fato de eu não poder me comunicar com ninguém pela ausência da oralidade.

Quantas vezes eu pensei e disse para mim mesmo: "Um surdo não é um idiota! Por que me tratam dessa maneira?" Mas, infelizmente o preconceito era generalizado e muito pesado, a ponto de se tornar insuportável para mim.

Estava eu observando a agitação do povo quando algumas pessoas chegaram a mim, tomaram-me pelos braços e começaram literalmente a me arrastar até aquele jovem com pouco mais de trinta anos que ocupava o centro das atenções no meio da multidão.

Eu não conseguia ouvir, mas pelos gestos percebi que vários deles conversavam com o jovem e apontavam para mim, como que pedindo dele alguma coisa. Tendo sofrido tanta discriminação por causa do preconceito durante anos, é claro que eu pensei que eles estariam falando com o Nazareno para me excluir da comunidade e me condenar, terminantemente, à solidão e ao desprezo.

Deixando a multidão, o jovem se aproximou, tomou-me as mãos e ambos nos afastamos do alvoroço. Curiosamente, ninguém nos acompanhou ou interferiu no gesto amistoso do Nazareno (soube, depois, que se tratava de Jesus de Nazaré). Todos permaneceram à distância, como que aguardando por algo inusitado ou, no mínimo curioso que acontecesse e que viria a se tornar motivo de muita conversa no povoado durante muitos dias.

Separado da pequena multidão, sem a presença de ninguém, inclusive dos seus discípulos mais próximos, o Nazareno tocou-me em ambos os ouvidos com os dedos. Em seguida, molhou o dedo na própria saliva e tocou a minha língua suspirando forte e dizendo algo que eu não consegui ouvir.

Qual não foi a minha surpresa quando, imediatamente após o toque de Jesus em minha língua e em ambos os ouvidos, passei a ouvir os gritos de júbilo da multidão e, por incrível quanto pareça, passei a ouvir a mim mesmo e os sons que eu conseguia articular, definitivamente.

Como eu disse anteriormente, um surdo não é idiota pelo fato de não conseguir ouvir. A menos que a surdez tenha sido causada por alguma disfunção neural, o indivíduo surdo está apto, perfeitamente apto para viver em sociedade sem que se sinta discriminado, pois ele possui capacidade intelectual para o aprendizado.

A multidão estava maravilhada com o acontecimento e, agora que tudo já pertence ao passado é que eu me lembro de um detalhe importante. Naquela dia, na verdade, algumas daquelas pessoas que eu não conhecia e que falavam com ele gesticulando em minha direção, vim a saber posteriormente que se tratava de um grupo de opositores que quiseram colocar Jesus à prova dizendo que, se ele era de fato o Filho de Deus, como dizia ser, então que demonstrasse o seu poder e autoridade curando um surdo que também não conseguia falar.

E foi exatamente o que Jesus fez! Ele demonstrou a todos a Sua autoridade e o Seu poder restaurando-me a audição e a oralidade. Mas, tão importante quanto, e foi isso que me cativou a ponto de eu não mais ser a mesma pessoa, foi o Seu amor demonstrado por mim e a sua compaixão diante do meu sofrimento físico e também emocional causados pelo preconceito e pela discriminação.

Ainda hoje as pessoas me perguntam por que eu continuo dando testemunho deste Jesus de Nazaré, e a minha resposta é uma só: "Faço isso porque Ele me amou. Como poderia esquecer o que Ele fez por mim?"

Na verdade, ainda que você não seja portador de nenhuma deficiência física, e mesmo que você possua alguma deficiência, saiba que Jesus te ama e Ele te acolhe com os braços abertos, independentemente do que você esteja sofrendo.

Vá até Ele. O amor de Jesus é inclusivo, como deve ser o verdadeiro amor, e é também infinito!

Meu amigo.

Ao encerrar esta reflexão, faço aqui a minha homenagem a toda a Comunidade de Surdos por ocasião do Dia do Deficiente Auditivo comemorado no último dia 26 de setembro, na pessoa de dois bons amigos cujos nomes mantenho a discrição de não mencioná-los.

O primeiro deles é deficiente Auditivo e é uma inspiração e bênção para mim, pelo fato de liderar um pequeno grupo de surdos levando-os ao conhecimento do amor de Jesus através da sua liderança e experiência própria com o amor de Deus.

O segundo, trata-se dela, cuja experiência de vida com um filho excepcional, aprendeu com o próprio filho autista, cego e surdo, a olhar para as pessoas com um amor profundo, real e contagiante a ponto de se aperfeiçoar em Libras que é a Linguagem Brasileira de Sinais, para se comunicar com os surdos e ensinar-lhes sobre Jesus como intérprete de Libras.

A eles e ao que representam, dedico o texto de hoje abençoando-os em nome de Jesus.

Deus a todos abençoe!

Pr. Oniel Prado

Primavera de 2021

03/10/2021

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 03/10/2021
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T7355582
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