BEL E A COMIDA


Seu nome é Isabel mas todos a chamam de Bel. Ela tem uma característica muito marcante, seu relacionamento conflituoso com a comida. Quando alguém menciona um prato de que gosta, ouve de Bel que ela detesta o mesmo. De uma fruta, mamão, por exemplo, Bel diz que não suporta nem o cheiro. Há uma difícil convivência diária com os alimentos.

Certa vez viajei em uma excursão ao Chile, da qual participava nossa amiga. Um dos passeios mais interessantes foi a visita a uma das muitas Vinícolas situadas no Valle de La Costa, na rodovia que liga Santiago a Valparaíso. É um lugar muito bonito, com roseiras floridas ao longo das cercas e videiras a perder de vista. Há degustação de vinhos, loja para aquisição dos mesmos e até um restaurante onde se pode almoçar pratos típicos, acompanhados de finos vinhos. Resolvemos experimentar a truta pescada nos rios da região, de águas límpidas e muito frias, vindas das nascentes na Cordilheira.

A truta grelhada nos foi servida solita, diretamente no prato, seguida de purê de batatas e colorida salada. Uma delícia, uma iguaria! Come-se esse pequeno peixe, afastando-se as partes carnudas que são levadas à boca, ficando no prato só os espinhos, em sua forma original. Assim que o garçom colocou o prato frente à Isabel, esta olhou para a truta, a truta olhou para ela e percebeu-se que não foram miradas amistosas. Foi antipatia à primeira vista. Bel até tentou comer porém, por falta de prática, misturou tudo, carne e espinhos. O resultado foi catastrófico. No prato ficou uma massa disforme, nada apetitosa.

Certa vez, convidei a amiga para almoçar comigo em um bom restaurante self-service de nossa cidade. Ao entrarmos, ela dirigiu-se ao buffet, deu a volta pelo enorme balcão examinando tudo, cuidadosamente. Ao voltar, me disse: “Não há nada aqui que eu possa comer.” Devo dizer que eu gosto muito desse restaurante pela qualidade e variedade dos pratos. Resultado: deixei de convidá-la!

Isabel é vegetariana, o que torna suas escolhas ainda mais limitadas. Costuma dizer que só come folhas em casa, porquê nos restaurantes não são lavadas. Isto me fez lembrar de meu falecido marido que era militar e contava que, no Rancho do exército, o taifeiro trazia um grande saco de arroz ou feijão e o despejava inteiro no panelão de água fervente. Haja alimento para dar de comer à tropa! Não havia tempo nem disposição para frescuras. Se alguém encontrava algo estranho no prato, os colegas diziam que era proteína, que não fazia mal, e todos caiam na risada...


 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 02/10/2021
Reeditado em 13/04/2024
Código do texto: T7355119
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