OS POETAS E SUAS MÃES
TRÊS POETAS FLUMINENSES E SUAS MÃES
Nelson Marzullo Tangerini
Muitas vezes, na minha casa, em Piedade, ou em sua casa, no Rio Comprido, ouvi meu querido tio, o advogado e poeta Maurício Marzullo (1915-2008), declamar “Minha mãe”, poema do romântico e jovem Casimiro de Abreu (Casimiro José Marques de Abreu) (1839 – 1810), publicado no seu livro “As primaveras”, poema este que ora publico:
“MINHA MÃE
Da pátria formosa distante e saudoso,
Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santor amor,
- Minha mãe! –
No berço, pendente dos ramos floridos,
Em que eu pequenino feliz dormitava:
Quem é que esse braço com todo o cuidado,
Cantando cantigas alegre embalava?
- Minha mãe! –
De noite, alta noite, quando eu já dormia
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
- Minha mãe –
Feliz o bom filho que pode contente
Na casa paterna de noite e de dia
Sentir as carícias do anjo de amores,
Da estrela brilhante que a vida nos guia!
- Minha mãe! –
Por isso eu agora na terra do exílio,
Sentado sozinho co´a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
- ‘Oh filho querido do meu coração!’
- Minha mãe!”
Luiz Antônio Gondim Leitão, mais conhecido como Luiz Leitão, ou ainda como Lili Leitão(1980-1936), poeta satírico – e pornográfico -, autor de “Sonetos”, que dividiu com Sylvio Figueiredo ( 1891 - 1972), “Vida apertada” (sonetos satíricos) e Comidas bravas (sonetos pornográficos – desaparecido), deixou-nos um lindo soneto, resultado do lirismo que nunca o abandonou em momentos de tristeza.
Aqui publicamos “Um poema”, soneto dedicado a sua mãe:
“UM POEMA
Tentei fazer um poema em que pudesse
Despejar flores sobre o teu regaço,
Revelando o teu nome a cada passo,
Com todo o ardor que a inspiração me desse.
E, logo com vivíssimo interesse,
Pus-me a escrever sobre o papel almaço;
Porém, quando o teu doce nome traço,
A minha alma, de súbito, estremece.
Parei, nem sempre a pena exprime
Tudo o que é puro e tudo o que é sublime.
Por isto, Mãe, eu peço-te perdão.
Mas não te zangues, não, nem fiques triste ...
O poema que mereces, ele existe:
Ficou guardado no meu coração!"
Tive a sorte de viver entre poetas: Nestor Tambourindeguy Tangerini, meu pai (1895-1966), e Maurício Marzullo, meu tio – citado no início desta crônica – e Luiz Leitão, que não conheci.
Muito querido pelas irmãs, pelos filhos e sobrinhos, Maurício era um homem simples e modesto, apesar da vasta cultura que carregava. Sempre inspirado, escreveu inúmeros sonetos para familiares, como o que veremos agora, cujo título é o mesmo usado por Casimiro de Abreu:
“MINHA MÃE
A minha mãe, Antônia Marzullo
Quando, nostálgico, a rezar me ponho,
Elevando a Jesus a minha prece,
Como se fosse tudo um grande sonho,
A minha mãe querida me aparece.
E, ao vê-la tão divina, eu me transponho,
Da tristeza malsã, que me embrutece
O coração, para um viver risonho,
Que em seguida, porém, desaparece...
E as minhas orações tão comovidas
Transformam, por encanto, as nossas vidas
Numa existência bela, sacrossanta,
Pois que eu enquanto rezo me debruço
Ante teus pés, ó mãe, e num soluço,
Proclamo que sou filho d´uma santa”.
Embora não tenha convivido com Luiz Leitão, tomo a liberdade de chamá-lo de tio, também, pois era, além de amigo inseparável de meu saudoso pai, um dileto irmão. Escritores teatrais e humoristas, escreveram juntos algumas peças que foram encenadas em Niterói e no Rio de Janeiro, como “Tudo pelo Brasil”, sucesso absoluto e comprovado no Teatro João Caetano, do Rio, em 1932.
A imprensa da época, incluindo o Jornal do Brasil, elogiou efusivamente o trabalho da dupla.