Mini crônica: o trapezista

O circo chegara na cidade havia uma semana. Dois dias, apenas dois dias foi o tempo que levaram para montá-lo. Estreou numa noite de sexta-feira, de lua cheia, bem clara. Foi ai então que a confusão começou.

Havia um trapezista no circo , muito belo e misterioso, por quem todas as mulheres que assistiam ao espetáculo se apaixonavam, sem exceção. Quando voltavam para casa , as casadas nem olhavam mais para seus maridos; as noivas terminavam o noivado; as namoradas, com os namorados e as solteiras não conseguiam mais dormir. A fama do trapezista cresceu rápido por toda a cidade e bem rapidamente já que esta era pequena.

O mais incrível é que diziam que o trapezista não se importava com mulher. Não tinha o menor interesse. Todas que iam atrás dele voltavam sem demora para o amor abandonado, uma a uma.

Numa noite destas qualquer, Silvia chamou Maurílio para irem ao circo. Como havia escutado a conversa sobre o trapezista — pois todos comentavam — Maurílio não quis ir, mesmo sabendo que o tal não se interessava por mulher. Por medida de segurança era melhor não irem.

Podia dar confusão , pois, ele era muito ciumento e uma só olhada da mulher poderia lhe acender os nervos.

Só depois de muita insistência da mulher e de conversar com todos os amigos que haviam ido até lá e lhe confirmaram a história resolveu ir.

Para a surpresa da mulher que esperava pelos menos um beliscão durante o espetáculo, tudo transcorrera irrealmente bem. O marido, apesar dela não tirar os olhos do trapezista durante a apresentação e de segui-lo até que sumisse por detrás da cortina, não esboçou a menor reação de ciúme ou de inveja. Voltaram tranqüilamente para casa. Ele nem mesmo falou sobre o assunto.

Chegou o dia do circo partir e ninguém sabe porque Maurílio nesse dia não voltou para casa.

Até hoje...