SONHOS, SONHOS, SONHOS...
SONHOS, SONHOS, SONHOS...
"...todo objeto (meta) e -- com ele também
a consciência de mim mesmo como sujeito
-- está perdido para mim. Minha realidade
desaparece no infinito". SCHELLING, 1795
(in "Sobre Dogmatismo e o Criticismo", edit.
Nova Cultural, SP, 1991)
O espelho -- e, antes dele, os rios e poças d'água, desde a Grécia de faunos e medusas -- cria uma "realidade inversa", ainda que tentemos negá-la. Há um ser (e coisas) "do outro lado"... nos sonhos sucede exatamente isso, há inúmeros seres, coisas e situações "do outro lado", curiosamente boa parte nunca vimos nem vivemos, nos surgem no cérebro sem explicações. Freud até tentou, Carl Jung teria contestado trechos de suas teorias. Me questiono o que é "projeção dos nossos anseios reprimidos" -- na visão de Freud -- e o que seria "antevisão", clarividência, premonição de um Futuro... "em algum lugar da Terra". Nesta madrugada tive nova profusão de sonhos, amigos e conhecidos aos quais não vejo desde fins dos anos 70 "reaparecem" com as caras antigas, em situações esquisitas, estranhas.
Filósofos gregos, entre outros, já se dedicaram aos sonhos, o quanto estes são CONSCIÊNCIA vigilante ou inconsciência descontrolada. Me pergunto se meu cérebro "esquece de mim" nos sonhos... e a resposta é negativa ! Sou a/o personagem principal de quase todos ou, "sobrevôo" as cenas e eventos neles, quando estou como "testemunha invisível" (?!) de um ou outro. Entre os 3 ou 4 desta madrugada -- na véspera de fechar 69 anos, agradecido por estar vivo e bem -- me vejo em 1 Canto em dupla com meu irmão gêmeo, letra minha, êle tocando num violão de cordas frouxas, duas "impossibilidades gritantes".
Desde a juventude, lá se vão mais de 50 anos, não nos entendemos em nada, só mesmo num sonho cantaríamos juntos. Os tempos atuais estão desagregando mentes e corações e os espíritos mal preparados acabam "atravessando o portal" que separa nosso "Universo" - a tal Vida real, dizemos -- do Universo infinito, impalpável, onde de NADA se precisa, nada se deseja.
Segundo SCHELLING, apenas o INTUIÇÃO de cada um "nos traz de volta" a essa Vida cotidiana... com um OBJETO, meta, Destino, propósitos, pretensões, anseios. Sem esse controlo interno, atento, "de rejeição", a tendência será "mergulharmos" no Infinito, "essência do Ser Supremo", o que forma o Universo. "É exigência da Razão não precisar mais de nenhuma felicidade como RECOMPENSA, tão certo quanto é exigência tornar-se sempre (...) mais autônomo, mais livre. O mais alto a que podem elevar-se nossas idéias é manifestamente um ser que, com autosuficiência absoluta, frui somente de seu próprio ser, um ser em que cessa toda passividade, que não é passivo em relação a nada, nem mesmo em relação às leis, que age com liberdade absoluta, apenas em conformidade com seu ser, e cuja única lei é a sua própria essência". (OBS: não confundam com a imagem de um "Bozzo" qualquer... "são outros 500", aqui fala-se de Filosofia de vida, não de vaidades !)
(...) Mas, com a liberdade absoluta, também não é mais possível nenhuma autoconsciência. Uma atividade para a qual não há mais nenhuma objeto, nenhuma resistência, nunca retorna a si mesma. Somente pelo RETORNO a si mesmo surge uma consciência. (...) Onde cessa toda resistência, há extensão infinita. Mas a intensidade de nossa consciência está na proporção inversa da extensão de nosso ser. O momento mais alto DO SER é, para nós, passagem ao NÃO-SER, momento de ANULAÇÃO". (pag. 25)
SCHELLING não é uma leitura fácil contudo, resumindo e "traduzindo"... ACORDE cada manhã com a noção de que você ESTÁ VIVO e que só isso já é felicidade suficiente, no meio dessa "manada de 9 BILHÕES" que sequer tem tal noção !
"NATO" AZEVEDO (em 30/set. 2021, 6hs)