Não deveria
Chega em casa, abre um vinho, uma cerveja, uma água, faz um café, faz qualquer coisa. Liga a televisão, liga o computador, dar uma olhada no celular, acende ou desliga a luz, pensa no que vai comer. Esse é o ciclo dos dias, 365 dias em um ano e quase todos eles passados assim, nesse ciclo sem fim e gosto.
Você corre dos 18 aos 70, buscando alcançar o sucesso e morre depois em meio às angústias da velha idade, isso se a violência ou degradação da tua saúde não te levarem primeiro ao desconhecido. Você bebe, fuma, se exalta em qualquer lugar onde tua alma se sinta confortável,
confortavelmente entorpecida, e assim leva teus dias gozando da tua forma e se esquecendo do que te rodeia, a gente se acostuma mas não deveria.
Cada mordida, cada sucção da tua boca te leva minutos, horas, dias, meses e anos da tua vida, isso sem contar o tempo que estudou para aquele concurso que tua mãe queria ver você passando e você foi lá e fez para dar orgulho e não passou, e mesmo se tivesse passado teria perdido boa parte da vida.
Ou então entra naquele teu trabalho grande e tão almejado, onde você é humilhado explícita e implicitamente para ganhar alguns trocados, trocados esses que serão levados por um marginal engravatado ou mal vestido, a diferença é que o último precisa mais deles do que o primeiro. Pois é, a gente se acostuma mas não deveria.
Vai passar teus dias pensando em como poderia ser a tua vida, com um copo de água na mão esquerda e um lexotan na mão direita, agarra essa tua roupa de marca e teu relógio brilhante, sacode o rabo feito feito um cachorro para o teu chefe merda, afinal, você está acostumado não é?
Você se acostuma, mas não deveria.