POETA BENJAMIM COSTA

O “PARISIENSE” BENJAMIM COSTA

Nelson Marzullo Tangerini

Um outro poeta fluminense merece destaque em minhas crônicas sobre os “parisienses”.

Trata-se de Benjamim Costa, que pode ser incluído, também, na escola Pós-Parnasiana – ou 2ª geração parnasiana – sugestão do escritor Paulo Monteiro, Imortal pela Academia Passofundense de Letras – aos poetas que se reuniam no Café Paris, de Niterói, RJ, na década de 1920.

Movimentando-se com desenvoltura entre a poesia lírica, bucólica, panteísta, simbolista e parnasiana (com leves pitadas românticas que nos fazem lembrar de outros fluminenses, como Fagundes Varela , em Flor do Maracujá, ou Casimiro de Abreu), ora escrevendo sonetos decassílabos, ora sonetos alexandrinos, como veremos, Costa revelou, também, o seu talento entre a turma do Café Paris:

“IRERÊ

À beira da lagoa, leve, arisca,

A travessa irerê vive contente,

Até que venha a noite, ao pisca-pisca

Das estrelas no céu resplandescente.

Às vezes seu corpinho as águas risca,

E nada alegre, ligeira, fremente...

Ou, dentre as margens, sobre folhas cisca ,

Nesse viver feliz e independente.

Ao vir o sol, nas frescas madrugadas,

Seu grito pelos ares sobre, desce,

Repercute distante, nas quebradas.

Mas vendo o caçador, ei-la, que voa...

E a pequena irerê desaparece

Entre os juncos selvagens da lagoa”.

“FLAMBOYANT

Ei-lo todo a florir! É o rei destas paragens...

Formoso flamboyant, que prende o meu olhar;

Manda-lhe o sol, calor, beijando-lhe as folhagens,

Manda-lhe, à noite, a lua os raios de luar.

Vendo-o, tenho a impressão de esquisitas miragens,

De rubros arrebóis crescendo sobre o mar;

Parece que ele traz o sangue das pilhagens

Na copa aberta em flor, pelo alto, a balançar.

De púrpura seu manto estende no caminho,

Manto que tem a cor das chagas de Jesus

- Lírio alvo do perdão, flor triste do caminho.

É de vê-lo, de pé, ramas ensanguentadas,

Quando, ao calor que faz, como a fugir da luz,

Abre o chapéu-de-sol das flores encarnadas!”

“O NINHO

Era um ninho pequeno, entrelaçado,

De folhas secas, tépido, macio,

A balançar num ramo recurvado

De um ingazeiro, rente à água de um rio.

Vi-o, no inverno, em sobras embuçado,

Na primavera e à luz do sol do estio;

Há muito que vivia abandonado,

Há mais de um ano estava, assim, vazio.

Se era forte demais a correnteza,

Em plena mata a virgem natureza

Afrontava das águas o rigor.

Levou-o o vento, a chuva, a tempestade...

E o rio agora vive de saudade

Chorando a falta desse ninho em flor!”

“PIRA SAGRADA

Tenho dentro de mim o fogo das crateras,

Rubro vulcão a arder no peito aberto em chamas;

Como num vaso grego, o incenso das quimeras,

Vejo, lento, evolar-se entre douradas flamas.

Feitos de estranha luz meu olhos são esferas

Nas órbitas, rolando, a luzir como escamas;

Carrego o destemor, a coragem das feras,

E no âmago abafo o grito de meus dramas.

Vivo só para mim, afastado, distante,

Num castelo de horror, fantástico, medonho ,

Onde as almas eu vejo à procura de Dante...

E onde, num mar astral de fogo e de sargaço,

Parece o coração na chama azul do sonho

Um bólido de luz incendiando o espaço!”

Segundo o professor e pesquisador Luiz Antônio Barros, autor do livro “Os poetas satíricos do Café Paris, Coleção e introdução aos clássicos fluminenses, volume 9, organização e apresentação do autor aqui citado, publicado pela Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2014, o poeta Benjamim Bittencourt Costa nasceu em Niterói, em 1894, onde faleceu, em 1954.

Autor de diversos livros de poesias, Benjamim Costa, atuou, também, como autor teatral.

Os sonetos publicados aqui podem ser encontrados na Antologia de Poetas Fluminenses, de Rubens Falcão, Gráfica Record Editora, Rio de Janeiro, GB, 1968, e no livro de Luiz Antônio Barros, ao qual me refiro nesta crônica.