Deixe o vento te levar
Eu me recordo que quando tinha entre os meus vinte e quatro e vinte e seis anos, morava em Catanduva na casa de uma irmã, de seu marido e seus filhos e eu estava bem sem rumo. E, embora sempre tenha sido uma pessoa de pouca revolta aparente, meu interior estava totalmente turbulento. Olhando para essa pessoa com os olhos de hoje penso que era algo realmente desesperador. É como ver alguém com um imenso potencial sem saber como o desabrochar.
Mas apesar de toda essa confusão íntima, tinha duas certezas: a busca pelo conhecimento me encantava e partir para o lado sombrio da vida não era uma opção. Pelo menos não o sombrio de fazer mal a alguém.
A filosofia espírita já era parte muito importante da minha vida. E sempre procurei aprender várias outras filosofias e culturas. Por isso passava grande parte do meu tempo na biblioteca municipal. Tinha acesso gratuito à internet e, entre uma leitura e outra, abria meu e-mail. E para minha surpresa veio uma mensagem através do endereço de uma pessoa que me introduziu ao espiritismo, sem nenhuma saudação, apenas com um texto sem título e sem autoria expressa. Eu apenas me recordo que ele dizia, de uma forma muito poética, que muitas vezes nos comportamos como folhas ao vento. Sem rumo, apenas sendo arrastados. Era claramente uma advertência que eu compreendi na hora. Mas que demorei um pouco ainda para conseguir colocar em prática.
Mas se posso, sem tirar a razão da advertência, dizer algo que aprendi também com essa situação é de que diante dos grandes sofrimentos, aqueles que parecem insuperáveis, e me dirijo especialmente àqueles que acham que não tem mais saída, ou que a saída seja sair à força da vida, diria de todo meu coração: se não sabe para onde ir, não sabe mais o que fazer, deixa o vento da vida te levar. Considere por algum tempo apenas como folha seca, reconheça a sua pequenez, sem fazer mal a ninguém. Pois o Dono da Vida e da Morte é também o Senhor do vento. E por mais humilhante e tortuoso pareça o caminho que esse vento esteja te levando, lembre- se que ele costuma dar reviravolta. E que não há grandes tempestades que não chegue a calmaria.
Seja de propósito sempre que possível, seja firme e perseverante no seu caminho previamente determinado. Mas se um dia se perder, apenas não perca seus valores. Deixe o vento te levar quando não tiver mais força para seguir andando.