Tipo Chegadinho

PENSO que ainda há no país um resquício de discriminação racial. Um absurdo, mas ainda persiste. No entanto, os mais adentrados nos anos sabem que era muito pior no passado. Naquele tempo a discriminação não era meio escondida como hoje. Era às claras. Era ua cultura. Uma cultura exercida no cotidiano. Não tinha essa de ser pardo, moreninho. moreno... Não foi branco era preto. E priu. Eu embora pudesse integrar o bloco dos morenos, sempre me considerei e me considero negro. Mas conheci carinhas que faziam de tudo para negar que eram negros.Fui exceção. Juro.

Gosto de falar em assuntos citando exemplos. Vou citar um acontecido na minha família. A minha irmã mais velha, uma loura (a mãe dela, primeira esposa de meu pai, era loura) começou a namorar com um rapaz da nossa cidade que era, como dizia a cultura da [época, de cor.Apesar de feições afiladas, cabelo liso,de boa família, muito educado, era negro. Foi um escândalo para parte da família, mas meu pai nem ligou. Bom, noivaram e marcaram o casamento. Mas faltava um último ritual. Apresentar o noivo à Tia Linda (uma velha solteirona irmã do meu saudoso avô. Ela tinha que avaliar noivo ou noiva. Minha irmã levou o noivo para a competente vistoria da tia.Lá chegando. ela botou o picinez, olhou bem o noivo e deu seu veredicto: "Olha, minha filha, não posso negar que ele é CHEGADINHO, mas parece educado. Pode casar". Casaram. Chegadinhoera o apelido para negro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 26/09/2021
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