Minha terra,nossas gentes.(coisas de África...)

Naqueles tempos...

Faço parte de uma família de histórias engraçadas, mais precisamente desde os tempos de meu pai e um tio por suas imprevisíveis e constantes distrações nas quais eu também me incluía. Desvios de atenção, por assim dizer...Hoje, talvez já se possa entender de outra maneira mas naquele tempo eram pessoas apenas vistas como distraídas.

É ao meu Pai que devemos os acontecimentos mais engraçadas pois dava às suas narrativas um tempero singular, único, pela maneira cômica como as descrevia colocando-se como herói em cada uma delas.

Nasci em Angola, cidade de Moçâmedes, no deserto do Namibe o mais antigo do mundo, num lindo oásis à beira mar; uma cidade pequena e aconchegante, e talvez por isso a maioria pessoas convivesse como família . Sim, uma grande família.

Entre as muitas histórias que conhecíamos do meu Pai e presenciamos , lembro-me de um acontecimento com Roberto um amigo que, até há pouquíssimo tempos atrás me narrava imensos “casos” acontecidos entre eles.

Disse-me ele algumas vezes: “Teresa, perdi a conta de quantas vezes seu Pai me pediu para percorrer as ruas de Moçâmedes à procura do carro pois não conseguia se lembrar onde o tinha estacionado. E não só isso: ele também não lembrava se tinha saído de casa com o carro dele ou de sua Mãe. Bem, eu tinha de procurar por dois carros: um Ford e um Volkswagen”.

Um certo dia Roberto foi convidado para padrinho de uma casamento, e como era hábito em Angola o padrinho ia no seu próprio carro pegar a noiva a casa e levava-a para a Igreja . Roberto achou que não tinha um carro “à altura” para o acontecimento e resolveu pedir ao meu pai .E assim foi: carro emprestado tal como já tinha acontecido em outros casamentos da cidade, e Roberto todo feliz...

“Roberto, podes levá-lo até já se quiseres, pois tenho andado no carro da minha mulher, ultimamente. Só tens de mandar pra lavar pois por estar parado está bem sujo”- disse-lhe meu pai.

Lá foi Roberto todo contente pegar o carro mas notou imediatamente que o motor teve dificuldade em pegar.Mandou dois “rateres” mas lá conseguiu dar o arranque . Na verdade gerava alguma insegurança para uso naquela ocasião especial ,mas era tarde para se pensar em outra alternativa.

Na hora combinada foi buscar a noiva e conseguiram chegar à Igreja de Sto Adrião .

Depois da cerimônia as fotografias de praxe com o fotografo mais conceituado da cidade , O Sr ROTIV, pétalas de rosas brancas pelos ares , pais dos noivos emocionadíssimo, beijos e abraços apertados e finalmente a pose para a foto mais esperada: o fotógrafo do lado de fora, nas traseiras do carro, e os noivos dentro, sentados no banco de trás com os pescoços torcidos e rostos voltados para a máquina. Eram lindas, aquelas fotos de época!

Forma-se então o cortejo com outros carros de familiares e amigos e é a hora de se dirigirem até local preparado para os “comes e bebes”, mas não antes de percorrerem toda a cidade para se anunciar o festejo e mostrar o lindo casal de noivos.

O carro dos noivos sempre saía por último a fechar o cortejo e assim foi mas...

Um susto! Ouve-se um barulho infernal como se fosse tiroteio. Eram como que tiros de pistola saindo do cano de descarga do carro . Quanto mais o Roberto tirava o pé da acelerador mais desesperado ficava...Não, não dava para trocar os noivos de carro naquele momento e assim percorreram a cidade .

Assunto esclarecido : cano de descarga todo furado, completamente danificado, e por isso o carro estava parado em nossa casa, sem condições de uso.

Um show” nunca visto até àquela data na cidade de Moçâmedes.

Comentário do meu pai ao receber as chaves do carro de volta:

- “ Ó Beto, tem piada que já não me lembrava por quê eu tinha de andar no carro da minha mulher há vários dias.Olha que , eu acho que devemos pedir explicações na oficina do Abel por não terem ido até hoje pegar o carro para o conserto.”

Lana

Teresa S Carneiro
Enviado por Teresa S Carneiro em 26/09/2021
Reeditado em 26/09/2021
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